Você sabe interpretar os sinais da vida?

16 de outubro de 2023

Somos parte da natureza.

Existe uma interessante teoria de James Lovelock e Lynn Margulis, que afirma que o nosso planeta e tudo o que nele existe é um ser vivo, e está conectado intimamente, de modo que tudo se envolve e se absorve.

Os budistas acreditam que todos os seres têm a natureza de Buda e, portanto, devem ser preservados, respeitados e acolhidos, pois fazem parte do todo.

Na prática, as teorias sugerem o equilíbrio para o bem de todos os seres vivos. Percebemos isso diante dos efeitos que causamos na natureza como extinção dos animais, redução das florestas, poluição de rios, entre outros. Porém, percebe-se aqui que o ser humano não necessariamente se compreende integrado a essa realidade, e por isso se desconecta da natureza causando danos a todos os seres.

A beleza da vida

Ao compreendermos essa conexão, podemos compreender as causas e efeitos e fazer uma leitura mais realista da vida. Estamos integrados. Assim podemos observar o que a vida nos oferece de modo mais presente e com mais gratidão ao legado que recebemos e que vamos deixar, pois tudo se dá para o nosso aprendizado e crescimento, até aquelas pessoas difíceis que passam pelo nosso caminho.

A prepotência humana

Podemos dizer que nossa racionalidade é boa, mas quando se coloca numa condição prepotente, justamente pela clareza com que consegue distinguir os símbolos, ela perde a sua percepção de que tudo está conectado. As árvores, os pássaros, as flores, os rios, os frutos, os animais, os seres humanos, tudo está conectado.

Ao perder a conexão com a realidade, perdemos a nossa capacidade básica de comunicação. Ouvimos, mas não entendemos. Falamos o que não queríamos ter dito. Criamos problemas diplomáticos e até guerras, pela incapacidade do diálogo, da empatia, de compreender a necessidade do outro e buscar uma solução em conjunto.

Perdemos então a nossa capacidade de interpretar os sinais da vida e, com isso, frequentemente nos colocamos em posição de vítima ou somos agressivos na expectativa de nos proteger. Dizem que nas artes marciais o primeiro passo é ajustar a mente, pois uma pessoa medrosa é a primeira que ataca.

Se perdemos a capacidade de ler, interpretar e se manifestar os sinais e símbolos, criamos um problema básico para as nossas vidas. De acordo com o pensador Ernst Cassirer, a função do símbolo é a interpretação da realidade. Através do símbolo o ser humano se manifesta e manifesta a realidade. Por isso, o ser humano passou a ser um ser humano a partir da criação dos símbolos, e isso o diferencia dos outros animais.

 

Um pouco de teoria

Ernst Cassirer (1874 a 1945) foi um representante da escola de Marburgo, considerado um idealista lógico. Sua teoria versa em especial sobre a doutrina da realidade e atividade simbólica do ser humano.

Na obra “Filosofia das formas simbólicas”, Cassirer reflete sobre a linguagem e sua ligação com o pensamento, o mito e o conhecimento. A sua conclusão foi que tudo começou quando o ser humano construiu seu primeiro símbolo.

A estrutura da linguagem nada mais é do que o conjunto de relações lógicas. Deste modo, a realidade é a manifestação, ou seja, o real é aquilo que se manifesta através do conjunto de relações lógicas, os símbolos.

Essa estrutura não considera a substância (essência aristotélica), mas a manifestação, sendo que a linguagem funciona como função. Na prática, a correta pergunta não seria a busca pela substância, ou o que está por debaixo da realidade, mas pelo conceito da relação, da função e lei lógica. Portanto, a realidade não é aquilo que está em si, mas aquilo que construí dentro de mim através das relações lógicas.

 

Atividade simbólica do ser humano

A linguagem é toda simbólica, enunciativa, ou seja, o ser humano é capaz de se expor a partir da linguagem, é objetiva, pois ele manifesta a realidade, e designante. Este conjunto de símbolos Cassirer chama de mundo dos símbolos, que é o mundo da cultura.

Deste modo, ele adverte que para entender o ser humano é necessário analisar, pesquisar e estudar a sua cultura, ou seja, a sua atividade simbólica que ele produziu e continua a produzir.

 

Conhecer o outro

No mundo ideal, todos seriam como eu sou e tudo seria como eu quero. Mas somos parte de um todo e não ao contrário. Quando pensamos neste “mundo ideal”, quase sempre damos luz aos nossos preconceitos.

Finalmente, fica o convite para uma uma introspecção sincera, pausar a vida e fazer uma leitura atenta da realidade, buscando a conexão com as coisas. Sentir o ar que nos dá a vida, as sensações prazerosas, desde as mais simples, buscar traçar as nossas metas pensando no todo e não apenas no nosso sucesso.

Se para atingir o seu objetivo é necessário jogar um papel no chão, está na hora de repensar os objetivos.

Referências

CASSIRER, E. Linguagem e mito – uma contribuição ao problema dos nomes dos deuses. Traduzido por J. Guinsburg e Miriam Schnaiderman. 1. ed. São Paulo (SP): Editora Perspectiva, 1972. Tradução de Sprach und mythos – ein beitrag zum problem der goetternamen.

CASSIRER, E. Filosofia das formas simbólicas I – a linguagem. Traduzido por Marion Fleischer. 1. ed. São Paulo (SP): Martins Fontes, 2001.Título original: Philosophie der symbolischen formen – die sprache.

LOVELOCK, J. The Revenge of Gaia: Earth’s Climate Crisis & The Fate of Humanity. Basic Books, 2007.

📷 The Secret (1885) | Johann Georg Meyer von Bremen (German, 1813–1886) | Imagem reprodução