Por que nos sentimos tão cansados?

26 de maio de 2025

Em tempos marcados pela aceleração, pela superexposição e pelo esgotamento, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han emerge como uma das vozes mais inquietantes e necessárias do nosso tempo. Com uma linguagem direta e poética, Han analisa as patologias da vida moderna — da sociedade do desempenho ao declínio do amor, da crise da atenção à perda da alteridade.

Conheça 10 citações que condensam o pensamento de Han e nos convidam a refletir sobre os modos de existência que temos naturalizado. São ideias que provocam, desconcertam e, acima de tudo, abrem espaço para uma nova forma de ver (e viver) o mundo.

 

Citação 1

“A sociedade do cansaço é uma sociedade do excesso de positividade, que se manifesta como excesso de informação, de estímulos, de desempenho e de produção.” Byung-Chul Han, na obra “A Sociedade do Cansaço”.

Essa frase resume a tese central do livro “A Sociedade do Cansaço”, no qual Han analisa as características da sociedade contemporânea, marcada pela hiperatividade, pela autoexploração e pela perda de sentido. Han argumenta que a positividade, entendida como a busca incessante por mais, leva a um estado de esgotamento físico e mental, que ele chama de cansaço.

 

Citação 2

“A comunicação digital produz uma sociedade da transparência, que elimina o segredo, o mistério e a alteridade.” Byung-Chul Han, na obra “No Enxame: Perspectivas do Digital”.

Essa frase introduz o livro “No Enxame: Perspectivas do Digital”, no qual Han critica a cultura da transparência, que se baseia na exposição e na vigilância constantes. Han afirma que a comunicação digital, ao invés de promover o diálogo e a compreensão, gera uma massa de dados sem significado, que impede a formação de uma esfera pública autêntica. Han defende que o segredo, o mistério e a alteridade são elementos essenciais para a construção de uma subjetividade e de uma comunidade.

 

Citação 3

“O amor é um acontecimento da diferença. Ele se realiza no encontro com o outro, que não se deixa capturar nem dominar.” Byung-Chul Han, na obra “A Agonia do Eros”.

Essa frase abre o livro “A Agonia do Eros”, no qual Han discute a crise do amor na sociedade atual, que ele atribui à erosão da diferença e da alteridade. Han sustenta que o amor é uma experiência de transcendência, que requer a abertura para o desconhecido e o imprevisível. Han contrapõe o amor ao narcisismo, à pornografia e à mercantilização, que reduzem o outro a um objeto de consumo ou de projeção.

 

Citação 4

“A beleza é um modo de resistência, que se opõe à violência do igual.” Byung-Chul Han, na obra “O Aroma do Tempo: Um Ensaio Filosófico sobre a Arte de Demorar”.

Essa frase sintetiza o livro “O Aroma do Tempo: Um Ensaio Filosófico sobre a Arte de Demorar”, no qual Han reflete sobre a relação entre a beleza e o tempo. Han propõe que a beleza é uma forma de resistir à aceleração, à padronização e à banalização da vida moderna, que ele denomina de violência do igual. Han associa a beleza à lentidão, à singularidade e à profundidade, que permitem a contemplação e a criação.

 

Citação 5

“A liberdade não é a ausência de coerção, mas a capacidade de agir de acordo com a própria lei.” Byung-Chul Han, na obra “A Expulsão do Outro: Sociedade, Percepção e Comunicação Hoje”.

Essa frase expressa o conceito de liberdade que Han desenvolve no livro “A Expulsão do Outro: Sociedade, Percepção e Comunicação Hoje”, no qual Han examina as consequências da expulsão do outro, entendido como o limite, a norma e a lei. Han afirma que a liberdade não é a mera possibilidade de fazer o que se quer, mas a capacidade de se autodeterminar, de se submeter a uma lei que se origina da própria razão. Han contrapõe essa liberdade à libertinagem, à arbitrariedade e à anomia, que caracterizam a sociedade atual.

 

Citação 6

“A atenção é a forma mais elementar do cuidado, que se dirige ao outro como um ser singular e irrepetível.” Byung-Chul Han, na obra “A Sociedade da Transparência”.

Essa frase define o conceito de atenção que Han explora no livro “A Sociedade da Transparência”, no qual Han complementa a sua crítica à cultura da transparência, que ele já havia iniciado em “No Enxame”. Han argumenta que a atenção é uma forma de cuidado, que implica em uma relação ética e estética com o outro, que se reconhece como um ser único e incomparável. Han opõe a atenção à distração, à indiferença e à informação, que dominam a sociedade da transparência.

 

Citação 7

“A felicidade é um modo de ser, que se funda na gratuidade, na serenidade e na plenitude.” Byung-Chul Han, na obra “O que é o Poder”.

Essa frase resume o livro “O que é o Poder”, no qual Han investiga a natureza e as formas do poder na sociedade contemporânea. Han distingue entre o poder positivo, que se baseia na afirmação, na cooperação e na realização, e o poder negativo, que se baseia na negação, na competição e na dominação. Han defende que a felicidade é um modo de ser, que se alcança pelo exercício do poder positivo, que se funda na gratuidade, na serenidade e na plenitude.

 

Citação 8

“A arte é um modo de resistência, que se opõe à instrumentalização, à funcionalização e à otimização.” Byung-Chul Han, na obra “Salvação do Belo”.

Essa frase sintetiza o livro “Salvação do Belo”, no qual Han analisa a relação entre a arte e a sociedade. Han propõe que a arte é uma forma de resistir à lógica instrumental, funcional e otimizante, que impera na sociedade atual, que ele chama de sociedade do desempenho. Han associa a arte à inutilidade, à imperfeição e à singularidade, que possibilitam a expressão e a invenção.

 

Citação 9

“A violência é um modo de relação, que se baseia na destruição, na aniquilação e na submissão.” Byung-Chul Han, na obra “Topologia da Violência”.

Essa frase expressa o conceito de violência que Han elabora no livro “Topologia da Violência”, no qual Han examina as manifestações e as causas da violência na sociedade contemporânea. Han diferencia entre a violência externa, que se exerce de fora para dentro, e a violência interna, que se exerce de dentro para fora. Han afirma que a violência é um modo de relação, que se baseia na destruição, na aniquilação e na submissão do outro.

 

Citação 10

“A verdade é um modo de revelação, que se dá no encontro com o ser, que não se deixa reduzir nem explicar.” Byung-Chul Han, na obra “Lob der Erde: Eine Reise in den Garten”.

Essa frase introduz o livro “Lob der Erde: Eine Reise in den Garten”, no qual Han reflete sobre a relação entre a verdade e o jardim. Han sugere que a verdade é um modo de revelação, que se dá no encontro com o ser, que não se deixa reduzir nem explicar pela razão ou pela ciência. Han compara o jardim a um lugar de verdade, onde se pode experimentar o ser em sua plenitude e diversidade. Han contrapõe o jardim à cidade, à técnica e à indústria, que obscurecem e distorcem o ser.

Referências

– Han, B.-C. (2013). No Enxame: Perspectivas do Digital. Lisboa: Relógio D’Água.
– Han, B.-C. (2014). A Sociedade da Transparência. Lisboa: Relógio D’Água.
– Han, B.-C. (2014). Topologia da Violência. Lisboa: Relógio D’Água.
– Han, B.-C. (2015). A Sociedade do Cansaço. Lisboa: Relógio D’Água.
– Han, B.-C. (2015). Salvação do Belo. Lisboa: Relógio D’Água.
– Han, B.-C. (2016). A Agonia do Eros. Lisboa: Relógio D’Água.
– Han, B.-C. (2017). A Expulsão do Outro: Sociedade, Percepção e Comunicação Hoje. Lisboa: Relógio D’Água.
– Han, B.-C. (2018). O Aroma do Tempo: Um Ensaio Filosófico sobre a Arte de Demorar. Lisboa: Relógio D’Água.
– Han, B.-C. (2018). O que é o Poder. Lisboa: Relógio D’Água.

📷 Portrait of a Boy Leaning over the Back of a Chair (before 1939) | Maria Marga Thomass (German, 1885-1939)