Pequenas lições para um grande projeto de vida
Certa vez eu li num livro de sabedoria oriental a seguinte provocação: “Seja como a água!”
O conto dizia que a água se molda ao longo do percurso, pode ser suave na nascente, veloz ao descer as montanhas, maleável para contornar os obstáculos, agressiva para bater nas pedras. A mesma água que traz alegria ao campo com as chuvas, pode se tornar uma dura enchente nas cidades. A mesma água que parece repousar e passear tranquilamente pelos rios, pode tornar-se uma perigosa torrente.
O que determina o estado da água é o seu objetivo: chegar aos lagos, mares ou oceanos.
Ora, se pararmos para pensar, não seria uma grande pretensão para uma fonte que nasce pequenina e distante, querer tornar-se parte de um grande oceano?
Pois bem, no caminho das águas observamos que ela nasce pequena, de águas subterrâneas, e essa fonte quase imperceptível começa o seu caminho e dá início à formação de pequenos riachos, que por sua vez atravessam os campos para originar os pequenos rios, que vão se formando afluentes que desaguam em rios cada vez maiores.
Ao somar força com as águas de outras fontes, finalmente chegam ao seu destino que são os lagos, mares ou oceanos.
As lições que a água nos dá
O caminho da água é o nosso caminho. Ao ler o conto acima, tenho certeza que alguns aprendizados já vieram à sua mente. Compartilho aqui algumas lições que aprendi.
Ser dirigido por propósito
Viver com propósito é buscar a nossa realização a partir de atribuir significado para as atividades que fazemos no nosso dia a dia, de estabelecer metas e objetivos, de superar adversidades em busca de algo maior: o nosso Projeto de Vida.
Começar pequeno
Começar grande pode levar à procrastinação, enquanto ao começar pequeno e registrar pequenos objetivos atingíveis, mais cedo ou mais tarde você os alcançará. Assim como o rio, seja paciente e vá aos poucos, da nascente ao riacho; do riacho aos rios; e dos rios aos oceanos.
Somar força
Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma que o ser humano é um animal político, ou seja, da polis (da cidade, da comunidade). Essa é uma das principais características humanas e viver em comunidade traz diversos benefícios como valorizar os pensamentos positivos e as atitudes mentais, que são fundamentais para manter o foco e evitar o desânimo no meio do caminho, sobretudo em momentos de crise. Permita-se ajudar e, sobretudo, ser ajudado.
Ser adaptável
Muitas vezes tememos mudar de opinião. O professor americano Leon C. Megginson, trouxe um artigo interessante em que destaca a importância das pessoas e instituições se desenvolverem para que não se deteriorem. Ele baseia-se na Origem das Espécies, de Darwin, que afirma que não é a espécie mais intelectual ou mais forte que sobrevive, mas aquela que melhor se adapta e se ajusta ao ambiente em mudança em que se encontra.
Enfrentar os desafios
Apesar de óbvio, muitas vezes nos esquecemos que teremos que lidar com a adversidade e precisamos estar preparados para enfrentá-la. Se não o fizermos, vamos desistir ou procrastinar. Adiar os desafios, sejam eles pequenos ou grandes, não significa que eles desaparecerão. Assim como a água precisa às vezes ser dura com os obstáculos, também nós precisaremos.
Seja como a água!
Busque o propósito para dirigir a sua vida, comece pequeno e pense grande, olhe para os lados e crie conexões para somar força rumos aos seus objetivos e também para apoiar os objetivos dos outros, se adapte às mudanças que são necessárias ao longo da vida e enfrente os seus desafios, se necessário, com dureza.
Fica, portanto, o convite: Seja como a água!
Referências
📷 The Knitting Lesson (c. 1860) | Jean-François Millet (French, 1814-1875)| Imagem reprodução