O que você procura?

19 de agosto de 2024

Aos poucos nos acostumamos com a correria do dia a dia, seja ela relacionada aos compromissos da labuta diária ou mesmo quando criamos voluntariamente um modo de vida acelerado. Passamos o tempo todo a fazer coisas, na busca de mais produtividade e de gerir melhor o tempo. A pergunta que fica é: afinal, o que nós procuramos?

A pergunta parece trivial, mas não é tanto assim. O fato é que estamos ocupados com o que fazemos e frequentemente nos esquecemos de nos perguntar o porquê fazemos, o que torna o nosso fazer sem sentido e a falta do propósito cansa e esgota. A sensação de vazio permanece apesar da correria.

Em busca de um sentido

Aristóteles em seu “Tratado da Alma” nos diz que somos capazes de dar significado às coisas. E penso que não somente somos capazes, mas temos necessidade em dar significado às coisas.

Ao longo da história, são diversas as culturas que – ainda que sem uma conexão entre si – elaboraram meios de buscar a ideia de finalidade. São fábulas, mitos e por meio do uso da racionalidade e conexões de causa-efeito. A filosofia, por sua vez, nasce da busca pela investigação sobre qual é o princípio (do grego Arché) de tudo.

É possível concluir que a humanidade está em permanente movimento em busca de um sentido para a vida e para as coisas. Ignorar nosso ímpeto por essa busca, substituindo pelo mero “fazer” me parece uma fuga de algo que faz parte da nossa essência.

Onde está o sentido das coisas?

Não existe uma fórmula mágica e o que é bom para um, não necessariamente é bom para o outro. O que deixa um feliz, pode deixar o outro triste. O caminho em busca de um sentido é pessoal e precisa passar – necessariamente – pelo respeito das diferenças. Nesse sentido, existem alguns caminhos que podem orientar a pessoa na busca de seu propósito e do sentido para a vida.

Significado pessoal: o sentido das coisas muitas vezes começa com o significado que atribuímos a elas em nossas vidas. Isso pode incluir nossas relações pessoais, nossos objetivos e realizações, nossos valores e crenças, e as experiências que consideramos significativas. Viktor Frankl dirá que “o sentido da vida é dar à vida um sentido.”

Conexões interpessoais: outras pessoas encontram sentido em suas relações com os outros. Para William Shakespeare, “o sentido da vida é encontrar o seu dom. O propósito da vida é compartilhá-lo.”. Desse modo, as conexões podem trazer alegria, amor, apoio e um senso de pertencimento, que são componentes essenciais do sentido da vida para muitos indivíduos.

Contribuição para algo maior: encontrar um propósito ou significado em contribuir para algo maior do que nós mesmos pode ser uma fonte poderosa de sentido. Isso pode incluir trabalhar para o bem comum, ajudar os outros, contribuir para a comunidade ou o meio ambiente, ou se envolver em atividades altruístas. Acesse o texto “Netweaving: Faça a diferença!” e saiba como começar esse processo.

Experiências transcendentais: algumas pessoas encontram sentido em experiências que transcendem o cotidiano, como a arte, a música, a natureza, a espiritualidade ou a contemplação filosófica. Essas experiências podem despertar um senso de admiração, conexão com algo maior e uma sensação de significado profundo. Schopenhauer, um filósofo tido como pessimista tem uma teoria muito interessante sobre essa perspectiva, que pode ser lida aqui.

Vida intelectual: finalmente, há também os que buscam de modo constante o aprendizado, crescimento pessoal e autodesenvolvimento. Isso pode incluir explorar novas ideias, perseguir metas desafiadoras, desenvolver habilidades e buscar a realização pessoal. Para quem quer iniciar esse caminho, recomendo a leitura da obra A Vida Intelectual, do padre Antonin-Dalmace Sertillanges (1863–1948).

Mas, tem um porém…

É comum percebermos naqueles que iniciam um trabalho pessoal para o seu desenvolvimento intelectual ou espiritual uma certa soberba. Nesse sentido, o filósofo, teólogo e santo Agostinho de Hipona nos adverte que “A humildade é o fundamento de todas as outras virtudes, portanto, na alma em que essa virtude não existe, não pode haver nenhuma outra virtude, exceto na mera aparência”.

Referências

📷 Over Yonder (1909) | N. C. Wyeth (American, 1882-1945) | Imagem reprodução