Como superar a correria do dia a dia?

21 de abril de 2023

O uso da internet e das redes sociais é generalizado. De acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI (2022), 82% dos lares brasileiros têm acesso a internet, sendo que 99% dos usuários de internet usam o celular para se conectar. Um levantamento da empresa NordVPN sobre os hábitos digitais dos brasileiros, publicado no portal techtudo indica que 13h por dia é a média que as pessoas passam na internet.

A popularização da internet é muito positiva, pois graças a esse canal podemos transmitir e receber informações e artigos relevantes como esse que você está lendo. Porém, essa nova forma de comunicação também traz os seus efeitos colaterais. E isso não é “privilégio” dos brasileiros.

O especialista em TV, Streaming e Internet, Trevor Wheelwright (2022), afirma que, em média, os americanos verificam seus telefones 344 vezes por dia. (Isso é uma vez a cada 4 minutos). Também traz outros dados relevantes como 48% das pessoas dizem que sentem uma sensação de pânico ou ansiedade quando a bateria do celular fica abaixo de 20%; 45% dizem que seu telefone é seu bem mais valioso; e que muitos usuários verificam se há mensagens, alertas ou chamadas em seus telefones, mesmo quando o telefone não está tocando ou vibrando.

Pois bem, esses são potenciais indicadores de uma síndrome que ganha cada vez mais relevante em nosso meio, a síndrome do “Fear of Missing Out” (F.O.M.O.), que traduzido livremente quer dizer o medo de ficar de fora.

Sobre a F.O.M.O.

Em linhas gerais, a síndrome Fear of Missing Out foi definida como uma sensação generalizada de que os outros possam estar tendo experiências sociais gratificantes das quais alguém está ausente (Przybylski, 2013). É um estado de hipervigilância e agitação frequentemente associado ao uso de redes sociais.

Todos nós sabemos que as mídias sociais não fornecem um retrato completo da vida das pessoas. É mais como a versão perfeita escolhida a dedo. O contato com a possibilidade de alguém ter a vida perfeita oferece oportunidades de comparação social e, como resultado, desencadeia ansiedade, solidão, depressão, exclusão social, o sentimento de derrota, tendo também por gatilho o sentimento de infelicidade, de acordo com artigo da revista Time.

Deste modo, a pessoa se pega várias vezes ao dia com os olhos colados na telinha do smartphone, com receio de ser o último a saber das novidades. Isso também gera o medo de perder o seu grupo.

A ideia de pertencimento é muito importante para nós, seres humanos, e por isso temos a necessidade de termos a melhor ideia, sermos os mais engraçados e inteligentes, mas também de evitarmos críticas e até falar não aos outros.

Porém, a velocidade e a quantidade de informação disponível é mil vezes maior que o cérebro humano pode processar, afirmou o filósofo Bauman. Quando busco algo no Google aparecem bilhões de respostas sobre algo, disse. Essa ânsia também vai gerar uma aceleração desmedida, fazendo com que seres humanos corram em círculos, como em uma gaiola de hamsters.

Correndo em círculos

Geralmente quem é muito agitado e se demonstra sempre muito ocupado, busca suprir na fase adulta lacunas da infância, ao ouvir frases como que a pessoa é lenta, não dá conta de seus afazeres, ou que nunca será como fulano e beltrano. Para responder a essas inquietações a pessoa cria uma lista enorme de atividades e acelera para cumpri-las. Porém, correr sem objetivo pode nos levar a gastar muita energia e, ao final da jornada, perceber que todo o esforço foi em vão.

O apóstolo Paulo, em sua carta aos Coríntios disse que “eu corro, mas não sem direção; eu luto, mas não como quem dá socos no ar”. Em outras palavras, ele nos orienta que de nada adianta correr se não temos uma direção. Ora, muitas vezes, a falta de um objetivo claro nos faz cair na ilusão de um mundo perfeito criado pelas redes sociais, e a busca por esse ideal nos torna ansiosos, insatisfeitos, inseguros e acelerados.

Desse modo, a maioria das metas e objetivos são criados por nós mesmos. Ainda que sejam demandas profissionais, muitas vezes somos nós que ampliamos o escopo e esquecemos que o simples é melhor. É possível, portanto, afirmar que a busca sincera por um propósito pode sim nos ajudar a superar a correria do dia a dia e a reduzir as demandas que aplicamos sobre nós mesmos.

Conhecer os porquês

Não gosto da ditadura do propósito, porém, dirigir uma página na internet que trata do tema deixa claro que considero o tema importante. Buscar um sentido para a nossa vida é o primeiro passo para a realização pessoal e profissional. Se não sei o que quero, não chego a lugar nenhum. Para isso, convido você a ler o texto Viver com propósito faz mesmo a diferença?, que apresenta o tema ao leitor e, na sequência, acessar também o texto Atinja os seus propósitos com um projeto de vida, que orienta o leitor a um passo a passo para colocar em prática o caminho para os seus objetivos.

Essa dobradinha de textos ajudam no discernimento pessoal para a paz consigo mesmo.

Viver o nosso próprio ritmo

Quando falamos de paz com a gente mesmo pensamos na integração entre o que somos e o que fazemos. É como uma música, com melodia e ritmo. A meditação, o silêncio interior, o autoconhecimento nos ajudam a identificar qual o nosso ritmo.

Assim como na música, percebemos quando o ritmo nos soa muito acelerado ou lento demais. Nos incomoda. Na vida é a mesma coisa. Precisamos conhecer o nosso ritmo.

Ao definirmos o nosso propósito e redigirmos o nosso projeto de vida, precisamos colocá-los em prática para atingirmos os nossos objetivos. Não adianta nos comprometermos a uma demanda impossível de cumprir. Isso vai nos tornar ansiosos e não vamos entregar o que esperam de nós. Por outro lado, preciso ser sensível à velocidade dos negócios, e buscar o ritmo correto, adequado ao meu perfil pessoal.

Geralmente a pessoa que consegue compreender essa dinâmica consegue ajustar às demandas da vida pessoal e profissional ao seu próprio ritmo. E via de regra essa pessoa trabalha melhor e com mais satisfação do que quem é agitado e corre como um hamster na gaiola.

Viver o nosso próprio ritmo consolida os objetivos a partir dos diversos papéis que temos na Vida Espiritual, Pessoal, Intelectual, Emocional e Corporal, dando significado e realização para cada passo vivido.

Referências

Przybylski A. K., Murayama K., DeHaan C. R., e Gladwell V., “Motivational, emotional, and behavioral correlates of fear of missing out,” Computers in Human Behavior, vol. 29, pp. 1841–1848, 2013.
CGI.br. (2022). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros – TIC Domicílios 2021.
Wheelwright, T. “Cell phone behavior in 2021: how obsessed are we?” Review, 2022, http://www.reviews.org/mobile/cell-phone-addiction/. Acesso em 26 dez. 2022.

📷 Morgenturen (1907) | Erik Henningsen (Danish, 1855 – 1930)| Imagem reprodução