Uma metamorfose ambulante

31 de agosto de 2020

Mudar de opinião. Que desafio. Apesar de na teoria os seus benefícios estarem muito claros para todos, na prática, mudar de opinião torna-se – para muitos – símbolo de fragilidade.

Na medida em que nos formamos, cresce nos outros uma expectativa em relação a nós. A maior prisão do ser humano está aí: viver para suprir a expectativa das outras pessoas. Para isso, assumimos uma postura amarga, difícil, indiscutível e até soberba. Tudo isso para mostrar aos outros a segurança de ser quem nós somos. Segurança esta que é frágil como a casa construída na areia.

Sócrates, filósofo grego nascido em 470 a.C., tinha um método muito interessante para questionar os que se diziam sábios e se colocavam acima dos outros [1]. Ele só fazia perguntas. Ao longo da conversa, os pontos fracos dos discursos dos “grandes doutores” ficavam claros e, às vezes, a insistência os levava ao ridículo. Sócrates foi morto por trazer à vida, como num parto, o conhecimento verdadeiro que vinha de dentro e não da reprodução da opinião dos outros.

Mudar de opinião é amadurecer. É entender que somos apenas um entre bilhões e que na medida em que aprendemos mais, sabemos que sabemos menos. E por isso, a abertura para o novo. E, se preciso for, como nos canta Raul Seixas [2]: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Referências

📷 A Girl from Dalarna on the Road | Severin Nilsson (Swedish, 1846 – 1918) | Imagem reprodução