Uma metamorfose ambulante
Mudar de opinião. Que desafio. Apesar de na teoria os seus benefícios estarem muito claros para todos, na prática, mudar de opinião torna-se – para muitos – símbolo de fragilidade.
Na medida em que nos formamos, cresce nos outros uma expectativa em relação a nós. A maior prisão do ser humano está aí: viver para suprir a expectativa das outras pessoas. Para isso, assumimos uma postura amarga, difícil, indiscutível e até soberba. Tudo isso para mostrar aos outros a segurança de ser quem nós somos. Segurança esta que é frágil como a casa construída na areia.
Sócrates, filósofo grego nascido em 470 a.C., tinha um método muito interessante para questionar os que se diziam sábios e se colocavam acima dos outros [1]. Ele só fazia perguntas. Ao longo da conversa, os pontos fracos dos discursos dos “grandes doutores” ficavam claros e, às vezes, a insistência os levava ao ridículo. Sócrates foi morto por trazer à vida, como num parto, o conhecimento verdadeiro que vinha de dentro e não da reprodução da opinião dos outros.
Mudar de opinião é amadurecer. É entender que somos apenas um entre bilhões e que na medida em que aprendemos mais, sabemos que sabemos menos. E por isso, a abertura para o novo. E, se preciso for, como nos canta Raul Seixas [2]: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Referências
📷 A Girl from Dalarna on the Road | Severin Nilsson (Swedish, 1846 – 1918) | Imagem reprodução