Quem é você no meio do caos?

21 de julho de 2025

Zygmunt Bauman, ao descrever a modernidade líquida, afirma que “vivemos tempos de incertezas mais do que de perigos, e o medo está deslocado: não sabemos mais o que temer, nem de onde virá a próxima ameaça”.

Vivemos, portanto, em um tempo marcado pela instabilidade, em que algumas referências que guiavam nossas decisões, como a religião, tradição, família, carreira, são alvo de questionamento diante das transformações tecnológicas, sociais e culturais.

O mundo contemporâneo mergulha o indivíduo em um mar de incertezas, onde o excesso de possibilidades paralisa e o medo do futuro se torna constante. Como manter o equilíbrio em meio a um tempo que dissolve verdades e muda de forma a cada instante? Quem é você no meio de todo esse caos?

Talvez a resposta para essas perguntas não esteja em nós, mas na nossa característica de relação.

Somos seres que se superam

Para Viktor Frankl, o ser humano é essencialmente autotranscendente. Isso quer dizer que não vivemos apenas para satisfazer desejos ou sobreviver, mas buscamos algo maior, como um sentido, uma causa, um amor, um valor.

A autotranscendência nos convida a sair do foco no “eu” e olhar para o “outro”, para o mundo, para algo além.

Na condição de humanos, somos seres feitos para nos doar, nos conectar, nos responsabilizar.

 

O encontro com o “outro”: a relação Eu-Tu

A busca por sentido não acontece no isolamento. A filosofia personalista e a Logoterapia lembram que somos seres de relação. O sentido da vida muitas vezes aparece no encontro com o outro a partir do olhar, do cuidado, do amor, da escuta.

É nessa relação Eu-Tu que experimentamos de verdade o que é ser humano.

O espírito em sua manifestação humana é a resposta do homem ao seu Tu… Este espírito é a resposta ao Tu que se revela nos mistérios, e que do seio deste mistério o chama. O espírito é palavra. O espírito não está no Eu, mas entre o Eu e o Tu. Ele não é comparável ao sangue que circula em ti, mas ao ar que respiras (BUBER, 2010).

E é nela (na relação Eu-Tu) que valores como liberdade, amor e responsabilidade deixam de ser ideias abstratas e se tornam vivências reais.

Recuperar o espírito em tempos vazios

Finalmente, meus amigos, entendo que em uma sociedade marcada pelo vazio, pelo consumo e pelo individualismo, pensar no ser humano como um ser espiritual é mais urgente do que nunca.

Em meio a todo esse caos, precisamos resgatar nossa capacidade de refletir, amar, escolher e viver com propósito. Esse é o convite: olhar para dentro, mas também para além. Assumir quem somos e o que podemos nos tornar.

Referências

Texto feito com a colaboração de Leonardo Araujo

Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007

Buber, M. Eu e Tu. Ed. Centauro, São Paulo, 2010.

📷 Zwei Mädchen in Albaner Tracht (1838) | August Riedel (German, 1799-1883)