Qual é o preço da liberdade?

19 de agosto de 2025

Vivemos em uma época em que somos, supostamente, mais livres do que nunca. Podemos escolher nossas carreiras, nossos amores, nossos estilos de vida. Podemos inclusive “nos reinventar” várias vezes ao longo da vida. No entanto, paradoxalmente, nunca estivemos tão perdidos, exaustos e, acima de tudo, vazios.

Viktor Frankl, psiquiatra e filósofo sobrevivente do Holocausto, já alertava que o ser humano não vive apenas para satisfazer desejos ou fugir do sofrimento. O que realmente nos sustenta — mesmo nas situações mais extremas — é o sentido que damos à nossa existência.

Para Frankl, encontrar uma missão pessoal não é luxo, mas sim uma necessidade existencial.

Mas essa busca por sentido tornou-se cada vez mais difícil em um mundo líquido, como descreve Zygmunt Bauman. Laços frágeis, vínculos efêmeros e relações descartáveis: tudo parece escapar por entre os dedos.

Em vez de raízes, temos conexões. Em vez de compromissos, preferimos “deixar em aberto”. O resultado? Uma liberdade sem direção, que frequentemente desemboca em solidão.

Nessa mesma esteira, observamos que a sociedade contemporânea, caracterizada pela cultura do desempenho e pela busca incessante por novidades (Han, 2017), exacerba esse sentimento de vazio.

Ao contrário dos animais, guiados por instintos, o homem moderno enfrenta o desafio de construir um sentido para sua vida em um mundo marcado pela fragilidade das relações e pela intensificação do vazio existencial (Bauman, 2001).

Byung-Chul Han vai ainda mais longe ao diagnosticar a sociedade do desempenho: vivemos sob a ditadura do “você consegue”, do “basta querer”. Somos nossos próprios algozes, correndo atrás de metas, likes e relevância, em um ciclo de hiperprodutividade que termina em esgotamento. Burnout, depressão, ansiedade — sintomas não só clínicos, mas filosóficos de um tempo que perdeu o eixo.

Nesse contexto, a proposta de Frankl sobre a importância da missão pessoal apresenta-se como uma alternativa para resgatar o sentido da vida e promover o bem-estar psicológico.

Talvez o vazio que sentimos seja justamente o preço de tanta liberdade.

Em vez de perguntar “o que eu quero da vida?”, talvez devêssemos perguntar: “o que a vida quer de mim?”. Existe algo maior do que o prazer momentâneo ou o reconhecimento exterior? Existe algo pelo qual valha a pena viver — e, quem sabe, até sofrer?

Referências

Texto feito com a colaboração de Leonardo Araujo

Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro:
Zahar Editora, 2001. (Originalmente publicado em 2000).

Cavalcante, Fábio Augusto Moreno. Entre o sentido e o projeto de vida: ética e educação nas teorias de Viktor Frankl e William Damon. 2025. Dissertação (Mestrado em Educação, Linguagem e Psicologia) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2025. doi:10.11606/D.48.2025.tde-27052025-085424. Acesso em: 2025-08-19.

Frankl, Viktor. A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da Logoterapia. São
Paulo: Paulus, 2011.

Han, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis:
Vozes, 2017. (Originalmente publicado em 2010).

📷 Georg, der Bruder des Künstlers, am Tisch sitzend (1854) | Franz von Lenbach (German, 1836-1904)