Tudo passa
O pré socrático Heráclito de Éfeso (aproximadamente 500-450 ac) ao observar o mundo percebeu que a única coisa constante era a inconstância. Apesar do aparente jogo de palavras, sua reflexão foi condensada em simples sentença:
“Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio” (Heráclito, 2005, p 91).
Para contextualizar e explicar a reflexão do filósofo grego, tome o exemplo de um filme. As sensações e experiências que você vivencia na primeira vez em que assiste uma obra cinematográfica não são as mesmas que terá quando a ver pela segunda vez. Por mais que você queira, a surpresa do clímax não poderá ser vivenciada na sua segunda vez diante das telas. Mais que isso, sua “re-leitura” da história estará recheada de interpretações, julgamentos e reflexões que podem mudar significativamente a sua perspectiva sobre o tema ou até mesmo sobre os personagens.
Portanto, não seria assim também a nossa vida? A cada segundo, o movimento do relógio transforma o mundo e a cada uma das pessoas em um novo ser, repleto de novas experiências e sensações, com uma tal constância que nos escapa a compreensão. O fato é que as mudanças chegam constantemente, de forma inevitável e muitas vezes sutil, ora com alegria, sorriso e felicidade, mas outrora com tristeza, dor e sofrimento.
Como o pai dos “contrários”, Heráclito torna o seu pensamento, ao mesmo tempo, cheio de terror e esperança. Isso porque coisas boas e ruins podem chegar até você a qualquer momento. No entanto, uma vez mais é preciso frisar: tudo passa. A noite não dura para sempre, cedo o sol chegará e encherá de luz um novo dia. A tempestade dará então lugar a saudosas tardes com um belo arco-íris no horizonte. Mas não se esqueça jamais de que tudo passa, e que por sua vez, também os dias de verão não são eternos.
Referências
Heráclito. (2005). Heráclito: Fragmentos contextualizados. Alexandre Costa (Trad.). Lisboa: Nacional-Casa da Moeda.
📷 Moonlit landscape | Petrus van Schendel (Dutch, 1806-1870) | Imagem reprodução