Solte os freios
A vida é uma viagem…
… você faz o seu planejamento, agenda, compra as passagens, reserva o hotel, embarca e tem duas opções: você pode colocar as suas malas no bagageiro ou carregá-las com você, no seu colo.
Já percebeu que às vezes optamos pelo desconforto de carregar a nossa bagagem nos ombros ou no colo para que outras pessoas não tenham acesso a ela? Na nossa vida também é assim.
Muitas vezes carregamos um desconfortável fardo que é o peso que damos às pessoas e coisas. Nos parece que em tudo que fazemos há um olhar condenatório de alguém que – por diversos motivos – exerce sobre nós uma influência desmedida. Ouso dizer que geralmente aquela pessoa que não sai da nossa mente e “nos julga”, mal sabe disso… como no efeito “bala perdida”, palavras soltas em algum momento da nossa história encontraram um coração confuso, e a prisão se instala.
Ouço e leio casos de pessoas que até na sua velhice não libertou-se daquele colega de escola ou do trabalho, da professora, dos pais, entre outros… ora, sejamos realistas, isso acontece com todos nós. O ponto aqui é: em qual medida?
O religioso espanhol Ignacio Larrañaga, em suas meditações, nos convida a silenciar e a soltar os freios, as nossas tensões. Sabe aquela hora em que você se dá conta que as costas doem, o ombro está duro e às vezes é até difícil de respirar? É disso mesmo que estou falando. Por que não identificar o que nos causa essa ansiedade?
Pense comigo.
Não somos seres isolados e o nosso passado e presente ajudarão a moldar o nosso futuro. Uma leitura ainda que breve da nossa história, sobretudo em momentos em que a ansiedade toma conta de nós, é uma oportunidade para identificar os seus gatilhos. Em outras palavras, pergunte-se: por que essa pessoa me causa tamanha influência? Que situação aconteceu no meu passado que me traz essa submissão? O que me aconteceu agora para que se tornasse um gatilho que esse sentimento me venha à tona?
O próximo passo, é fazer uma releitura da situação. Veja, muitas vezes, passamos por vazios de significados. Cito um exemplo para simplificar. Imagine comigo a seguinte situação: somos crianças, no auge da nossa brincadeira de rua, e a nossa mãe nos chama para o jantar. Se atrasamos, nos aplica um castigo.
Pois bem, quando crianças, não temos a maturidade para entender que o sol já se pôs e com isso há riscos, ou seja, a preocupação da nossa mãe não é interpretada por nós como preocupação, mas como uma punição. Talvez isso me traga um sentimento ruim ao longo da vida, atribuindo até a culpa de determinadas situações à minha mãe. Injusto. Mais maduro, ao reler essa circunstância, consigo interpretar de uma forma mais realista o que houve e, enfim, a liberdade.
Mais um ano se inicia e este é o meu convite para todos nós: curta a viagem, esvazie a sua mochila e solte os freios!
Faça algumas pausas durante o dia. Feche os olhos, respire, tome consciência de si mesmo, das suas sensações e sentimentos. Liberte-se e depois conte para nós a sua experiência.
Referências
📷 A Young Man By A Carriage (1909) | Pierre André Brouillet (French, 1857–1914) | Imagem reprodução