Será que precisamos de mais tempo?
É comum ouvirmos a popular frase: “quer pedir algo a alguém, peça a quem está muito ocupado”. Ora, mas será que ela é verdadeira e qual a raiz dessa afirmação?
Essa frase é interessante porque, em paralelo, muitas vezes é comum também dizermos que queremos mais tempo para o nosso dia, ou que nos falta tempo para um momento de diversão, de oração ou para praticar esportes. Mas penso que não necessariamente com mais tempo conseguimos fazer mais coisas. Explico.
Quando tenho pouco tempo disponível, para que eu possa realizar as minhas demandas eu preciso necessariamente me planejar. Por exemplo, se trabalho todos os dias das 9h às 18h30, eu preciso considerar o tempo do trajeto de ida e volta para o trabalho e me organizar com o tempo que me resta para aprender uma nova língua, praticar a minha religiosidade, dedicar um tempo à família, realizar a minha caminhada diária dentre outras demandas necessárias para uma vida equilibrada.
Eu preciso estabelecer um cronograma semanal e diário. Caso contrário eu não consigo realizar tudo o que preciso fazer. Por outro lado, quem não tem essa demanda externa de uma tarefa com horários fixos, como o trabalho ou um estudo universitário, por exemplo, tendo portanto mais tempo disponível, corre-se o risco de deixar sempre para depois, vivendo a temida procrastinação.
Digo para mim mesmo: já que não preciso acordar tão cedo, posso começar os meus estudos um pouco mais tarde; o horário flexível de trabalho também me permite executá-lo em outro período; o meu almoço pode variar o horário todos os dias; as mídias sociais parecem sempre me chamar para ficar mais um pouquinho conectado e no fim do dia percebemos que pouco fazemos do que deveríamos ter feito.
Passam os dias e semanas, mas quando me dou conta eu tinha todo o tempo do mundo disponível e não aproveitei esse tempo para nada. E com essa constatação, também vêm os sentimentos de impotência, infelicidade e de ter falhado com a minha realização pessoal.
Porém, nos cabe também refletir que se preciso de uma demanda externa para me organizar, é importante ter em mente que com isso passo a transferir a responsabilidade da minha vida e do meu futuro para o outro. Por isso, ter um projeto de vida ajuda a minimizar a necessidade da pressão externa e também para dar sentido às minhas demandas do dia a dia. Não vivo para trabalhar, mas o trabalho faz parte de algo maior. É uma das muitas atividades que tenho durante a semana que, somadas, vão me levar ao meu propósito.
Seguem algumas dicas práticas para organizar o dia a dia. Isso não requer programas, aplicativos, preenchimentos complexos, nada disso.
- Escreva as suas demandas em um papel
- Sempre que possível, considere as demandas à luz do seu propósito e projeto de vida
- Organize as demandas por prioridades
- Faça um calendário semanal com colunas de dias da semana e linhas com os horários
- Inicie o preenchimento do calendário pelas atividades cujo horário não depende de você (trabalho, escola, faculdade, etc.)
- Na sequência, estabeleça a quantidade de vezes por semana cada atividade é necessária e escolha os horários para realizá-las
- Faça uma revisão do calendário completo. Lembre-se que já temos todos algumas atividades básicas como alimentação, banho, etc.
- Cuide para que haja espaço entre as demandas, de modo que você consiga descansar e tornar o processo prazeroso
- Ao executar, não se preocupe com o dia todo, mas foque na próxima demanda, isso ajudará a dar um ritmo adequado, sem a ideia de estar sobrecarregado.
- Após duas semanas com disciplina, avalie com franqueza se o que propôs está adequado. Caso se sinta sobrecarregado, é melhor repensar se você precisa realizar tudo ao mesmo tempo.
Referências
📷 Astronomer by Candlelight (late 1650s) | Gerrit Dou (Dutch, 1613-1675)| Imagem reprodução