Como saber se tenho preconceitos?
Vamos ver se você está afiado para o teste a seguir. Quem falou essas frases?:
1. “A maior glória de viver não está em nunca cair, mas em nos levantar toda vez que caímos.”
A. Madre Teresa de Calcutá, religiosa
B. Nelson Mandela, advogado
2. “Se as pessoas não tiverem o poder de dizer as coisas, eu vou dizer por elas.”
A. Karl Marx, filósofo
B. Sócrates, ex jogador
Quem acompanhou o início da internet lá pelos anos 90 se lembra bem dessas brincadeiras que divertiam aqueles que se aventuravam a madrugar na conexão discada. O desafio era descobrir o autor de algumas frases, mas algo além disso também chama a atenção: o peso que damos para a mesma frase, que muda de acordo com a autoridade que o autor representa.
O valor das palavras
Parece complicado vincular a autoridade ao discurso, mas não é. Faça o teste com você mesmo. Leia atentamente a frase a seguir:
“Amigos, expulsai da mente o mal e o perverso. Recebei da alma o que é salvo e fiel!”. Papa João XXIII
E se eu te disser que o autor não foi o destacado acima, mas Michael Weikath, guitarrista da banda de Heavy Metal chamada Helloween? Com certeza, na leitura inicial, ao checar o autor da frase você pode ter pensado no contexto de igreja, hierarquia, paz, sabedoria, de estudiosos que refletem muito no que dizem e cuja instituição partilha da reputação necessária para uma avaliação positiva. Entretanto, ao descobrir o verdadeiro autor, talvez um ar de decepção ou surpresa tenha pairado no ar.
Talvez, se inicialmente tivesse apresentado a frase com seu verdadeiro autor, a percepção do leitor seria bem diferente, porque não esperamos frases como essa vindas de músicos e muito menos de bandas de rock. Pois é, somos seres de preconceito.
As relações entre discurso, saber e poder
Michel Foucault, foi um filósofo francês e para ele, entender a história é buscar os campos discursivos de cada época. A história é feita de momentos aleatórios e não conectáveis em períodos diferentes. Além disso, ele estudou com firmeza e sabedoria as relações entre discurso, saber e poder. Para Foucault, todos os discursos são saberes, mas atribui-se a alguns um nível mais elevado de importância a partir do poder de quem discursa, assim, vem os métodos empíricos e suas provas, os métodos racionais e suas filosofias e assim por diante.
O saber condicionado ao poder
Sendo o saber condicionado pelo poder de quem o discursa, Foucault vai tentar ao máximo se afastar da figura do autor e sua autoridade para entender a realidade. Para Foucault, então, não importa o autor que escreveu, mas sim o que de fato ele produziu. Quem escreveu não possui tanta relevância ao longo da história para o saber, mas sim o que foi dito ou escrito.
Foucault dizia que devemos cuidar para que a exaltação do autor não nos desvie do que de fato importa, o seu pensamento.
Todos podemos contribuir
O ensinamento de Foucault nos ajuda a olhar a realidade de uma forma menos preconceituosa e com maior abertura para o aprendizado. Todos nós temos a possibilidade de agregar valor para as outras pessoas. Cada pessoa é única e possui um talento capaz de orientar e transformar a vida de outras pessoas. Cabe a nós descobrirmos como podemos apoiar a sociedade e também a nos deixarmos ser apoiados pelas pessoas.
Para quem ficou curioso…
Ah, antes do texto acabar fique tranquilo. Seguem respostas:
“A maior glória de viver não está em nunca cair, mas em nos levantar toda vez que caímos.”
B. Nelson Mandela
“Se as pessoas não tiverem o poder de dizer as coisas, eu vou dizer por elas.”
B. Sócrates, ex jogador
Referências
📷 Die Lauscherin (1833) | Peter Fendi (Austrian, 1796 – 1842) | Imagem reprodução