Por que temos tantos conflitos internos?
Você já deve ter ouvido a expressão popular “nem Freud explica!”, usada quando uma situação absurda nos é posta e pouco nos sobra além de lidar de forma bem humorada. Pois bem, hoje vamos buscar entender os nossos conflitos internos na forma como “Freud explica”.
Todos somos envolvidos por nossos pontos positivos e negativos, pelo nosso individual e também pelo social, porém, muitas vezes esses “polos” podem trazer conflitos que se não forem entendidos e equilibrados, poderão nos trazer sérios problemas ao longo da vida.
Embora seja difícil distinguir uma coisa da outra, busco aqui uma abordagem mais filosófica de Freud, em seu contexto de afirmar que importa a história de cada indivíduo e não o reduzir ao coletivo, como afirma Hegel.
A psique humana em três fases
A antropologia de Freud entende a psique humana em três fases: o id (inconsciente), o ego (consciente) e o superego (moral).
O id é o depósito de toda a nossa vivência, ou seja, as nossas experiências positivas ou negativas. Aqui temos o nosso impulso de prazer, ele sempre busca o prazer prevalecendo o instinto, ou impulso sexual (libido). Do id partem os impulsos que “gostariam” de se tornar ego (consciente), mas o superego (moral) não permite. O superego tem o papel de guardião, que censura o que pode ou não vir ao consciente (ego). Deste modo, o impulso retorna ao id ainda mais forte, o que gera os traumas e complexos, que podem se transformar em neuroses. E esta é a vida do ser humano. Para solucionar os traumas e neuroses, a pessoa precisa verbalizar, por meio de uma terapia psicanalítica, para atingir a libertação (catarse).
Por sua vez, o impulso que não pode ser confirmado pelo consciente busca uma espécie de “máscara” para lidar com a situação, que pode ser em forma de um complexo, um trauma, uma neurose. Há casos de transferência, em que eu canalizo o impulso para outra pessoa ou objeto, ou mesmo a sublimação, em que uso essa energia do impulso para algo além do eu.
Todo efeito tem uma causa
Para Freud todos os fatos possuem um nexo causal (causa e efeito), ou seja, nada é por acaso. Assim, a pessoa possui o princípio do prazer, em que o instinto é aceito no consciente (id no ego) e uma necessidade é satisfeito sem pressões, é um processo primário; ou o princípio da realidade, em que o superego “não permite” o impulso (id) ser aceito pela consciência (ego), levará a pessoa a buscar uma compensação ou substituição, transferindo ou sublimando o impulso, num processo secundário.
O tempo do indivíduo para Freud é passado, presente e futuro, sendo pelo nexo causal, o passado influencia e determina o presente e futuro.
Eros e Thanatos
Segundo Freud, o ser humano se manifesta pelo Eros (amor) e Thanatos (morte), duas realidades da cultura grega, tendo Eros como o instinto da vida, da construtividade, e Thanatos como instinto da morte, da destrutividade, e busca, com isso, entender a realidade da vida e da morte.
Freud diz que Thanatos faz parte da psique humana e se manifesta na agressividade, por isso, o ser humano – como os outros animais – é naturalmente agressivo. Nasce então a dialética entre construtividade e destrutividade, em que a pessoa se manifesta em sadismo e masoquismo (negativo) ou de maneira solidária (positivo).
Sendo a agressividade a tendência fundamental básica da vida, o ser humano pode destruir-se com os complexos (destruições internas) ou com brigas e violência (destruições externas), e mesmo com drogas ou excesso de álcool, sabendo o que faz. Entretanto, Freud não enxerga essa agressividade como algo puramente negativo, mas que pode ser conduzida para a construtividade.
E como lidar com os conflitos internos?
Além da verbalização proposta por Freud a partir de uma terapia, existe um método interessante de Carl Jung que pode ser lido aqui.
Nota do autor: o artigo é uma provocação filosófica que objetiva trazer luz ao tema. A leitura desse texto e dos artigos complementares não substitui a avaliação de um especialista.
Referências
FREUD, S. O mal-estar na civilização (J. O. A. Abreu, Trad.). In J. Salomão (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XXI, pp. 67-150). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1930)
ROTHGEB, C. L. (Ed.). (2001). Sigmund Freud: Chaves resumo das obras completas São Paulo: Atheneu.
The Impact On An Individual Of A Conflict Between The Structures Of The Mind Identified By Freud. (2022, March 17). Edubirdie. Retrieved May 29, 2023, from https://edubirdie.com/examples/the-impact-on-an-individual-of-a-conflict-between-the-structures-of-the-mind-identified-by-freud/
📷 The Temptation of Eros (1750–75) | Anonymous | Imagem reprodução