Pare de buscar a felicidade!
Muito se fala na busca da felicidade, como se ela estivesse em um lugar, numa coisa ou mesmo em uma pessoa. E buscar a felicidade torna-se mandatório, uma vez que vivemos certa “ditadura da felicidade”, em que precisamos aparentar os mais felizes e bem sucedidos o tempo todo.
A felicidade também pode ser entendida além de um sorriso contínuo, mas como um equilíbrio interno, uma necessidade em reduzir as tensões, que de forma simplificada explica o conceito de homeostase. Para Freud, o ser humano alcança esse equilíbrio quando os instintos estão satisfeitos por meio do prazer.
O neuropsiquiatra austríaco, Viktor Frankl, ao apresentar sua oposição ao pensamento de Freud sobre o prazer e a homeostase, afirma justamente o contrário. Segundo ele, “quanto mais se faz do prazer um alvo, mais se erra a mira. Em outras palavras, é justamente a ‘busca da felicidade’ que frustra sua obtenção” (FRANKL, 1991, p. 48).
A felicidade e a razão para ser feliz
Uma intenção exagerada pode se transformar, sob a perspectiva da psicoterapia, em uma neurose, e a hiperintenção e hiper-reflexão tendem a criar padrões neuróticos de comportamento. Segundo Frankl:
Em condições normais, o prazer nunca é a finalidade última da atividade humana, mas, sim – e deve continuar sendo -, um efeito, mais especificamente, um efeito colateral em consecução de uma meta. Realizar um objetivo constitui uma razão para ser feliz. Em outras palavras, se já há uma razão para ser feliz, a felicidade se apresenta automática e espontaneamente. Essa é a razão pela qual não se deve buscar a felicidade; esta não deve ser objeto de preocupação, na medida em que houver uma razão para ela (FRANKL, 1991, p. 48).
Em uma época em que a “ditadura da felicidade” está muito presente – principalmente nas redes sociais e mecanismos midiáticos -, a afirmação de Frankl de que a felicidade não pode ser perseguida pode causar estranhamento. No entanto, Frankl (1991) demonstra que ao fazer da felicidade o objeto de motivação, ela também se torna o objeto de atenção, perdendo-se de vista o motivo, a razão para ser feliz. Consequentemente, a felicidade acaba por desaparecer.
Para Frankl, quanto menos se importa com a felicidade e o prazer, mais eles tendem a acontecer. A vontade de sentido, para Frankl, é o que permeia o homem e, por isso, pode ser definida como “o esforço mais básico do homem na direção de encontrar e realizar sentidos e propósitos” (FRANKL, 1991, p.50). Consequentemente, as outras vontades passam a ser meras derivações da vontade de sentido.
Referências
FRANKL, V. E. A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da logoterapia. São Paulo: Paulus, 1991.
📷 La Fanciulla Sulla Roccia A Sorrento (1871) | Filippo Palizzi (Italian, 1818 – 1899) | Imagem reprodução