Os desafios profissionais na pós-modernidade

23 de maio de 2022

O advento da tecnologia proporcionou uma revolução em que o excesso, velocidade e superficialidade da informação contribuíram para a fragilidade das relações humanas. O filósofo Zygmunt Bauman, trouxe o conceito de modernidade líquida, que estabelece a influência desses aspectos no surgimento de uma nova ordem social em que “nenhum emprego é garantido, nenhuma posição é inteiramente segura, nenhuma perícia é de utilidade duradoura, a experiência e a prática se convertem em responsabilidade logo que se tornam haveres, carreiras sedutoras muito frequentemente se revelam vias suicidas.” (BAUMAN, 1998, p. 35).

Esse novo modelo mental também cria uma conexão da vida pessoal e profissional quase que indissociáveis para o indivíduo.

Do vapor ao digital

No ambiente empresarial, ao traçarmos uma perspectiva histórica, percebemos um importante movimento desde a 1a Revolução Industrial no século XVIII, com as máquinas à vapor, passando pela descoberta e aplicação da energia elétrica, nos séculos XIX e XX, a utilização de semicondutores e computadores pessoais no século XXI e, nos anos 2000, a combinação de tecnologias físicas, digitais e biológicas, a chamada “4a Revolução Industrial”.

Ao destacarmos o ser humano nesse contexto, percebemos que há mudanças no escopo do profissional ao deixar de ter como foco a execução para a necessidade de desenvolvimento das chamadas soft skills, ou seja, habilidades socioemocionais como empatia, liderança e comunicação, dentre várias outras.

Um novo perfil profissional

A mudança no perfil do profissional pode ser compreendida a partir da transição do conceito VUCA para o acrônimo BANI. Segundo Ulisses Zamboni (2020), o conceito VUCA – em que o mundo pode ser visto como Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo – que surgiu há cerca de 40 anos, não se aplica à leitura contemporânea, marcada pela Inteligência Artificial, crescimento das mídias sociais, o Big Data e a popularização da internet como plataforma de comunicação. Zamboni cita o antropólogo e historiador Jamais Cascio e o seu acrônimo BANI como uma atualização do VUCA.

O conceito BANI – em que o mundo é visto como Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível – pode ser bem compreendido à luz da teoria dos filósofos Bauman e Byung-Chul Han, ampliados num contexto de pandemia Covid-19. A reduzida visão de longo prazo traz as incertezas do imediatismo e as mudanças frequentes tornam mais frágeis as relações humanas – consigo mesma e com o outro – o que gera um contexto de ansiedade. Deste modo, não basta a busca pelo aprimoramento técnico, mas também de ampliar as competências e habilidades comportamentais.

Quais habilidades desenvolver?

Diante da perspectiva de mudança, o Fórum Econômico Mundial publica periodicamente uma lista com as principais habilidades que os profissionais devem observar para atualizarem-se frente ao novo ciclo econômico. Neste contexto, as 10 principais habilidades para 2025, de acordo com o Fórum Econômico Mundial são:

“Pensamento analítico e inovação; Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem; Resolução de problemas complexos; Pensamento crítico e analítico; Criatividade, originalidade e iniciativa; Liderança e influência social; Uso, monitoramento e controle de tecnologia; Desenho e programação de tecnologia; Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; Raciocínio, resolução de problemas e ideação.” (WHITING, 2021).

De acordo com o Fundador e Presidente Executivo do Fórum, Professor Klaus Schwab, o advento da tecnologia amplia as ferramentas disponíveis aos profissionais e, portanto, o potencial humano pode ser melhor aproveitado.

Controlar a ansiedade em meio ao caos

Refletir sobre a nossa capacidade de acessar e processar um grande volume de informação, em curto prazo, e controlar a ansiedade é muito importante. Penso que após a pandemia covid-19, estamos em meio a uma nova mudança.

As relações empregador-empregado tendem a ser diferentes e alguns valores pouco questionados devem ser priorizados, tais como a qualidade do tempo, a flexibilidade, e com a exposição da desigualdade social, a aceleração da inclusão de diversidades também devem nortear as diretrizes organizacionais. Os indivíduos abertos ao novo de cada ciclo, poderão aproveitar as oportunidades de desenvolvimento como pessoa humana.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. O mal estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

WHITING, Kate. These are the top 10 job skills of tomorrow – and how long it takes to learn them. WEF, 2020. Disponível em: < https://shortest.link/13HD >. Acesso em 18/09/2021.

ZAMBONI, Ulisses. O modo VUCA arrefece. Boas-vindas ao modo BANI!. MIT, 2020. Disponível em < https://shortest.link/13HG >. Acesso em 18/09/2021.

📷 Calling in the Gleaners | Jules Breton (French, 1827-1906)