O que você faz da vida?
Na festa de família, no aniversário de um amigo, no bate papo desinteressado… seja lá qual for a ocasião, uma pergunta é certa: “o que você faz da vida?” O que me incomoda não são as perguntas, mas a intenção da pergunta e, em especial, o desconforto da resposta.
Via de regra, a pessoa não quer saber quem você é, mas qual é o seu emprego ou carreira, em que universidade estuda, enfim, aspectos transitórios que não nos definem, mas apenas afaga a necessidade de uma representação social, ou seja, qual é o meu papel e se ele é considerado relevante ou não por aquele grupo.
Nesse contexto, costumamos deixar de lado uma riqueza que é a vida da outra pessoa, os seus talentos, hobbies e contribuição social, para explorarmos aspectos que apenas correspondem à cobrança da sociedade.
A cobrança da sociedade
Quando jovens sabemos bem como a pressão social funciona. Quando será o primeiro namoro? Que faculdade quer fazer? Já aprendeu inglês? Qual o seu emprego? Quando vai casar? Quando vai ter filhos? Onde pretende morar? Qual carreira quer seguir? e assim por diante.
Claro, que na maioria das vezes as intenções são as melhores. É evidente que não há aqui um julgamento sobre os pais, os tios, os avós, os amigos mais próximos em suas preocupações com o futuro da pessoa, mas não podemos deixar de observar a pressão que não ter a resposta “certa” nesses casos exerce sobre o jovem.
Como não temos resposta para tudo, aprendemos cedo a responder a partir das estruturas sociais e não sobre nós mesmos. Em outras palavras, ao ser perguntado sobre “O que você faz da vida?” A resposta que vem na mente é o curso e o nome da faculdade, ou o cargo e empresa em que trabalha. Essa é uma forma de encerrar a conversa do ponto de vista pessoal e apontar para o social. Invariavelmente a próxima pergunta será “como é o curso?” ou “como vão os negócios?”.
A proteção da estrutura
Não podemos negar que a proteção dessa estrutura é confortável. Se o cargo que ocupa, a instituição para qual trabalha, a faculdade onde estuda corresponde à expectativa de determinado grupo social, isso já nos eleva a um status social. Nosso sobrenome já não é mais o da família, mas o da empresa ou universidade, mas é importante mencionar que quem confunde identidade com o cargo que ocupa pode ter problemas caso algum dia perca a sua posição. Mas afinal, o que define quem eu sou?
O que define quem sou?
Passamos a vida toda em busca dessa resposta. Na maioria das vezes, vamos por tentativa e erro, desde a infância. Podemos dizer que há mesmo várias respostas para essa pergunta, mas um exercício simples e prático pode nos ajudar a encontrar respostas. Caneta e papel nas mãos e vamos lá!
1. Quando me pergunto “o que define quem sou?” qual a primeira coisa que me vem à mente? Essa coisa é transitória ou permanente? É mais do que uma? Quais são as cinco que você considera mais importantes?
2. Pergunte-se “o que você faz?” ou seja, qual o seu papel na sociedade, seu emprego, se é voluntário, se tem alguma causa, o seu propósito?
3. “Quais são os seus talentos?” Aqui você descreve as suas aptidões culturais, por exemplo, pinta, toca, borda, gosta de alguma corrente artística, um estilo musical?
4. “Quais são os seus valores?” O que você traz dos seus pais, avós, tios, enfim, de familiares que te influenciaram desde a infância?
5. Pergunte-se “o que eu quero para o futuro?” quais são meus projetos, meus sonhos, minhas expectativas com relação ao futuro?
Finalmente, junte todas as respostas e procure responder essa pergunta: “O que você faz da vida?”, utilizando os tópicos que você considera mais relevantes de todas as cinco perguntas do nosso exercício.
Talvez essa seja a verdadeira resposta e o ajude a sair da sombra das estruturas e buscar o seu protagonismo. Mas, uma outra pergunta importante: Por que às vezes não me reconheço?. Esse é o tema de outra Provocação Filosófica escrita por mim, que o convido a ler e aprofundar o tema.
Referências
📷 La lettera | Pio Ricci (Italian, 1850–1919) | Imagem reprodução