O processo de inovação e os silomaníacos

22 de junho de 2020

Nos anos 90, a palavra de ordem para as empresas era a Qualidade. Qualidade total, que podemos resumir como um processo eficiente com custos cada vez menores e baixas perdas de produção. As técnicas operacionais ganhavam cada vez mais corpo e a gestão e administração do tempo virou obsessão para executivos e profissionais. Cada um no seu quadrado, ou no seu silo, sabia exatamente o que, quando, e onde fazer.

Atualmente, a onda da vez é a Inovação, que toma conta das empresas, independente do tamanho e setor, e busca engajamento de todos os profissionais. Ao invés de departamentos fechados, silos, é hora de colocar todo mundo na mesma mesa e buscar ideias, processos e mindset inovadores para que a empresa tenha uma visão de médio e longo prazo considerando aspectos mais humanos, ou seja, o perfil do consumidor, e não apenas técnicos.

Não quero, de forma alguma, entrar no mérito da metodologia da inovação, com pesquisas, análises, sínteses e execução de projetos. Não obstante, não quero pensar em fluxogramas, caixinhas coloridas, prazos, etc. quero aqui focar no ser humano e não no processo.

Todos sabemos que um bom processo de inovação começa com uma boa liderança. Se o modelo mental de inovação não estar claro para os gestores, acho muito improvável o engajamento de suas equipes. E, ainda que engajados, o risco de no primeiro revés, algo absolutamente normal, o projeto seja “engavetado” é grande.

Pontos de atenção

No Brasil, temos a criatividade (que é diferente de inovação) como um ponto muito forte e muitas ideias surgem nas discussões, mas somos ansiosos e isso é um ponto de atenção. Outro ponto importante, é que temos que aprender a fazer escolhas pragmáticas, ou seja, cuidar do básico e não pensar apenas no abstrato. Passamos fome tentando fazer o melhor assado sem considerar o arroz e feijão para acompanhar.

Também destaco a execução, que deve ser veloz e eficiente, e um modelo de trabalho compartilhado, sistêmico, que incomode de forma positiva, que faça todos se unir, sejam protagonistas e não vivam em silos. Se o telefone ao lado toca eu não atendo porque não é comigo. Se o projeto é de Tecnologia da Informação eu não faço minhas considerações porque não sou de TI. Ora, nunca vi um zagueiro sair cara a cara com o goleiro adversário e chutar pra fora porque a função de fazer o gol é do atacante e não dele.

Ser humano inova para o ser humano

Enfim, o processo de inovação se dá a partir do ser humano, uma vez que uma mente racional é a capacitada para desenvolver projetos dessa natureza. No entanto, apesar da tentação da tecnologia em si, muito importante lembrar que o produto ou serviço será utilizado por outro ser humano. Qual o impacto disso? Pois bem, atualmente o homem e mulher não se contentam com pouco ou com a visão puramente prática das coisas, ou seja, não dá mais para pensar num celular que apenas faça ligações. Ao contrário, considerar nos estudos toda a rede social da pessoa é fundamental.

É isso mesmo. Agora os processos de inovação se dividem em dois grandes grupos. O primeiro se dá de forma mecânica e técnica. A tecnologia, produção e processos para que o produto saia da fábrica com a melhor configuração possível. Mas, ainda mais importante, são os novos conceitos de filosofia, antropologia cultural e sociologia nos estudos. Atualmente entender quem é o ser humano, o que ele faz sozinho, o que ele faz no coletivo, como esse coletivo se comporta, qual é o seu contexto, o que pensa, o que fala nas redes sociais, qual a visão prática das coisas, e quais são os seus interesses sociais e de sustentabilidade deve fazer parte da pauta de qualquer pesquisa de inovação. E isso não é fácil. Exige sair de si mesmo – a grande dificuldade desta geração.

Finalmente, reforço que não basta uma estrutura de tecnologia, processos e treinamentos, se o ser humano não é considerado como o número 1. E quando digo isso, estou falando em suas categorias humanas (corpórea, psíquica e espiritual) para que possam sair dos silos e buscar uma rede de integração que faça sentido para uma nova geração que chega a cada dois a três anos, desafiando as organizações todos os dias. Não há respostas prontas, mas você pode dar o primeiro passo.

 

Texto escrito em 2017

Referências

📷 Moonlit Night in Winter Outside Amsterdam | Elias Pieter van Bommel (Dutch, 1819 – 1890)| Imagem reprodução