Nem de mais, nem de menos

10 de maio de 2021

Você conhece alguém que se entende dono da razão, que explica com suposta autoridade o caminho que as formigas percorrem, a composição do Mar Morto, as propriedades calóricas da alimentação do astronauta e o por que do caminhão de lixo passar no dia e horário que passa em sua rua?

Por outro lado, você também deve conhecer pessoas que, por trás de uma máscara de humildade, preferem esconder-se e sentirem-se incapazes ou indignas de opinar até sobre assuntos que são pós-doutoras.

Pois bem… foi pensando nessa avaliação cotidiana que trazemos para vocês duas teorias bem interessantes, que certamente ajudarão você, assim como aconteceu conosco, a melhor se observar e perceber-se sobre a forma como interpreta o mundo ao seu redor e – em especial – como essa interpretação se manifesta. São as teorias do efeito Dunning-Kruger e a Síndrome do Impostor.

 

Efeito Dunning-Kruger

Nos EUA, após uma assalto a banco, inesperadamente o criminoso – que cometeu o delito à luz do dia, sem nenhum disfarce – recebeu a visita da polícia local e ficou pasmo ao perceber que havia sido pego. Parece óbvio que seria descoberto, não é? Mas não foi óbvio para ele que após ler alguns textos, pensou que ao passar suco de limão em seu rosto este tornara-se invisível. Baseou-se no fato de que um experimento dizia que se usa o limão como componente para tinta invisível. Em uma análise psicológica, constatou-se que o ladrão estava completamente sadio.

Essa história levou a um estudo desenvolvido por David Dunning e Justin Kruger da Universidade Cornell (EUA), em 1999. Não vou me ater a parte científica, pois o tema é amplamente divulgado e por meio de uma pesquisa simples você poderá encontrar uma infinidade de artigos, notícias e vídeos a respeito do tema. O foco aqui é o resultado.

Em resumo, na pesquisa constatou-se que ao fazerem uma autoavaliação sobre determinado assunto, as pessoas tendem a superestimar a sua capacidade. Atribuem a si mesmas uma nota maior do que a que realmente conseguem alcançar. As pessoas se consideram mais sábias do que realmente são e o fato de ignorar a própria ignorância, ou seja, não enxergar além daquilo que conhecem, eleva o nível de autoconfiança.

O efeito disso acompanhamos todos os dias em nossas redes sociais e nos veículos de comunicação. Às vezes, em nosso cotidiano também. Pessoas que inventam histórias, que conhecem tudo, explicam tudo, discutem tudo. Enciclopédias humanas, com sabedoria milenar que enxergam o mundo de forma reduzida e nele se colocam com um brilhantismo que na maioria das vezes não passa de uma soberba ignorância. Com a autoestima nas alturas, e realização na terra, atribuem o seu momentâneo insucesso aos outros e a falta disso e daquilo.

Antes de apontarmos o dedo, em alguma medida passamos por isso em determinada esfera da nossa vida. Ter a humildade de olharmo-nos com atenção e nos corrigir é muito importante.

Às vezes é melhor ser o menor entre os gigantes do que gigante entre os pequenos.

Por outro lado…

 

Síndrome do Impostor

Também sobre a Síndrome do Impostor há diversos artigos, de modo que não vou me ater a questões técnicas e científicas. Pelo contrário, recomendo que busque textos de profissionais de saúde para aprofundar o tema.

Em linhas gerais, tratam-se de pessoas que não conseguem reconhecer o próprio sucesso, que pensam que as suas conquistas foram por acaso e não se sentem dignas para atingi-las. São pessoas com baixa autoestima e que se não tratadas corretamente, a síndrome pode levar a depressão.

São pessoas que acreditam que o fracasso é inevitável e que em algum momento serão descobertas e o seu mundo ruirá. Para que isso não aconteça, justificam o seu sucesso momentâneo com muito esforço, sem exposição, muita comparação e receio de serem julgadas pelos outros. Caem muitas vezes no esgotamento e na auto sabotagem.

Novamente, antes de apontarmos o dedo, em alguma medida passamos por isso em determinada esfera da nossa vida. Ter a humildade de olharmo-nos com atenção e nos corrigir é muito importante.

 

Buscar o equilíbrio

Aristóteles dizia que a virtude está no meio, a famosa mediania aristotélica. A virtude, que representa o conjunto de qualidades do ser humano de bem, precisa ser cuidada, para que não caiamos nos vícios, que são os comportamentos extremos. Precisamos aprender a cada dia – num processo que leva a vida toda – a nos reconciliar conosco mesmo, buscar o equilíbrio.

Atualmente, há diversos profissionais que nos ajudam a voltar ao eixo, psicólogos, psiquiatras, filósofos dentre outros. Aqui no Filosofia Diária também estamos comprometidos a ajudar-nos todos – leitores e autores – a uma vida mais feliz e menos pesada. Considerando que tudo é bom na sua correta medida. Nem de mais e nem de menos.

Referências

📷 The Robber and His Child | Karl Friedrich Lessing (German, 1808 – 1880)