Incertezas
Já parou para pensar em quanto tempo passamos pensando em nosso futuro? Será que não gastamos muito “presente” pensando no “futuro”?
Nós queremos dominar tudo. Queremos dominar a terra, os mares, a vida dos outros, o trabalho, a Lua, outros planetas… e como não conseguimos, nos angustiamos. Por isso, nos preocupamos com o futuro para garantir que tenhamos alguma certeza, seja ela financeira ou de proteção. Entretanto, o nosso futuro é cheio de incertezas.
Blaise Pascal, filósofo francês, dizia que os animais nesse aspecto são mais felizes que os seres humanos, pois concentram-se no agora. Se estão com fome, comem. Se estão com sede, bebem. Se estão com sono, dormem. Por outro lado, o ser humano é muito saudosista – preso ao passado – e demasiadamente preocupado com o futuro, que é incerto.
Nos projetamos sempre para o futuro e não vivenciamos a felicidade do nosso presente, pelo contrário, a felicidade nos parece estar sempre no futuro… “serei feliz quando trocar de carro”, “serei feliz quando viajar para o exterior”, e o mesmo quando tiver outro emprego, aquela Smart TV, uma casa na praia, etc.
Cabe uma reflexão.
Existir não é algo fácil. Muitos pensadores citam a tensão como um dos aspectos mais importantes da vida humana. Henri Bergson, filósofo francês, dizia que a qualidade da minha vida comigo mesmo é o que mede a minha qualidade de vida com os outros e quando esta não funciona, saímos do julgamento qualitativo para o quantitativo. Deste modo, a vida comunitária torna-se uma comparação sobre quem tem mais sucesso, mais bens, mais roupas de determinada marca, o carro ou smartphone mais novo…
… e se não tenho, preciso aparentar ter. Se não tenho condições para adquirir uma fazenda, compro uma casa. Se não posso comprar uma casa, troco de carro, de smartphone ou um relógio, ou um tênis, uma roupa… enfim, um ciclo insuportável para suprir as exigências exteriores.
Não há aqui julgamento moral, evidentemente. Porém nos cabe refletir o quanto estamos gastando a nossa vida, que é finita, com fatores que não são controláveis. Ao invés disso, que tal buscarmos melhorar a nossa qualidade de vida conosco mesmo, na simplicidade do nosso ser?
Finalmente, convido a assistir uma peça de William Shakespeare, pelo intérprete Moacir Reis.
Referências
📷 Margaret at the Church (1864) | Nicaise De Keyser (Belgian, 1813 – 1887) | Imagem reprodução