E se você pudesse realizar três desejos?

21 de maio de 2023

No filme Aladdin, de 2019, em um diálogo entre o Gênio da Lâmpada e o protagonista, a curiosidade do jovem tornou-se, a meu ver, o ponto central do filme. Perguntou qual era o desejo do gênio. Boquiaberto, o gênio – interpretado por Will Smith – refletiu sobre a pergunta que ninguém havia feito antes, pois todos os que o encontraram antes estavam ocupados demais em selecionar apenas três dos próprios inúmeros desejos. A resposta foi simples: a liberdade. Porém, conquistar a liberdade não dependia exclusivamente do gênio, mas da cessão de um dos desejos de quem o encontrou, o que tornava seu sonho ainda mais distante.

Apesar de rápido, o diálogo nos ajuda a refletir sobre alguns pontos.

O primeiro é a empatia, de querer saber de quem pode lhe oferecer um favor (ou desejo) o que ele desejaria se estivesse em seu lugar. O segundo, o desejo pela liberdade, dificilmente encontrada de maneira solitária. Por sua vez, o terceiro, que é o pano de fundo da conversa, é o quão numerosos são os sonhos e desejos que queremos realizar.

Penso que as três coisas se fundem em nossa vida real, ou seja, a importância de no dia a dia fazer escolhas que não impactam negativamente outras pessoas e, quando possível, buscar um impacto positivo, e o fato que fazer escolhas é a concretização da ideia de ser livre. Talvez seja até o preço que a liberdade nos custa.

O filósofo e escritor francês, Jean-Paul Sartre, que viveu no séc. XX e foi um dos expoentes da corrente filosófica denominada Existencialismo, concluiu – em sua obra “O ser e o Nada” – que o ser humano é condenado a ser livre, e a sua liberdade consiste em realizar escolhas a todo momento, assumindo as suas consequências.

Ora, é interessante observar que temos certa inclinação para querer tomar as decisões que nos cabem e, muitas vezes, nos sentimos incomodados quando outros as tomam por nós. No entanto, fazer escolhas nos coloca em situação vulnerável, pois optar por uma coisa, significa deixar outras para trás e isso nos causa certa angústia.

O medo de uma escolha errada nos leva a olhar para os lados e observar o que as pessoas estimam, assim como Aladdin pergunta ao gênio o que pediria em seu lugar, também cabe a interpretação que vai além da empatia que confirmamos no final do filme, mas também a ideia de buscar a aprovação do outro.

Blaise Pascal, também filósofo francês, que viveu no século XVII, nos traz uma realidade ainda mais profunda. Por um lado, buscamos certezas em terrenos incertos. Por outro, também é clara a ideia de que não nos bastamos a nós mesmos e com isso, não ficamos satisfeitos. Diz ele que como não nos contentamos com a vida que temos, queremos criar a ideia no outro de que estamos bem e satisfeitos, e com isso vivemos fingindo uma vida perfeita.

Pascal nos alerta que muitas vezes nossos desejos e escolhas não são nossos no íntimo, mas uma vontade que temos de algum reconhecimento. A aprovação do outro minimiza a angústia de uma escolha errada apontada por Sartre. Além disso, também me traz luz ao que está por baixo dos meus desejos.

Viver para impressionar os outros me torna incoerente, inconstante e perturbado, em uma ansiedade sem fim. Essa perturbação me leva a reviver as escolhas do passado, e recear o que virá no futuro, sem viver de fato o presente. Não estou plenamente onde estou, pois meu julgamento está pautado na vaidade.

E, para nos deixar ainda mais pensativos, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer analisa a vontade como a essência humana, impossível de ser sanada. Deste modo, a alegria da conquista de algo desejado torna-se imediatamente um tédio e o estopim para um novo desejo, como aquele que ao comprar uma TV percebe que o seu sofá já não está confortável o suficiente.

Percebemos, portanto, que para sermos livres precisamos fazer escolhas o tempo todo e que a nossa vontade nem sempre nos satisfaz, mas – pelo contrário – nos entedia e o vazio interior e o medo da angústia de uma escolha imperfeita nos leva a buscar a aprovação dos outros.

A teoria é interessante, mas e se o dilema do Aladdin fosse o seu dilema? Quais seriam os seus três desejos? Será que esses desejos são realmente o que você quer no íntimo ou apenas uma forma de conquistar os elogios dos outros?

Referências

ALLADIN; Direção: Guy Ritchie. Estados Unidos: Walt Disney Pictures, 2019.
PASCAL, B. Pensamentos. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Os Pensadores).
SARTRE, Jean-Paul. L’Être et le N’éant – Essai d’Ontologie Phénoménologique (O ser e o Nada – Ensaio de Ontologia Fenomenológica). Paris. Gallimard, 1953.
SCHOPENHAUER, A. Dores do Mundo. Tradução: José Souza de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Brasil Editora, 1960.

📷 The Swing (1767) | Jean-Honoré Fragonard (French, 1732-1806)| Imagem reprodução