É possível ser muito competente e humilde ao mesmo tempo?
Em geral, ninguém faz um curso, começa numa profissão, faz um artesanato ou começa uma prática esportiva querendo fazer de qualquer jeito. É natural a nossa busca pela excelência. Porém, ao atingir a excelência (ou pensar que já atingiu) é importante nos observarmos se ao mesmo tempo em que crescemos não subimos também a escada da arrogância.
Ouvi uma vez que a humildade é apenas para os fracos, que não conseguem alcançar tal excelência. Mas afinal, é possível ser muito competente e humilde ao mesmo tempo?
A falsa humildade e a humildade
Ora, a falsa humildade é uma forma de desonestidade e até falta de gratidão, pois me coloco na condição de não reconhecer os meus dons, as minhas habilidades, aquilo que sou bom. Pior, me faz entrar na paranoia da comparação em que, quase sempre, me diminuo.
Por outro lado, quando me dou conta do tamanho do mundo, do tamanho do Universo, da história, do que veio antes de mim. Quando paro para pensar em Deus, nos escritores, nas pessoas que fizeram o bem, nas pessoas que são capazes de falar várias línguas ou se demonstram grandes artistas, enfim… quando me percebo diante disso, eu não abro mão de valorizar no que sou bom, mas assumo na nudez da verdade, os meus limites, ou seja, a verdade. A humildade é a verdade, disse Santa Teresa.
A humildade me ajuda a me situar
Valorizar as belezas e os talentos que encontro nas outras pessoas e não identifico em mim, me ajuda a provar na prática a experiência da humildade. Eu simplesmente me coloco no meu lugar, nem acima e nem abaixo, apenas aprecio e valorizo nas pessoas naquilo que elas são.
Desse modo, a humildade me ajuda a me situar, a olhar para mim mesmo e perceber que sou diferente dos outros. Não por incapacidade, mas por experiências vividas e as minhas escolhas. Isso me ajuda a não me comparar com os outros, pois cada um tem um ritmo. É quase que como encontrar a minha localização no mundo, onde me percebo, onde me encontro, onde estou efetivamente.
Humildade rima com felicidade
E, portanto, a humildade liberta, pois me ajuda a estabelecer um laço de caridade, amor e compaixão comigo mesmo no que sou bom e também no que não sou. A humildade me ajuda a ser mais paciente comigo mesmo, a amar os meus limites e isso me traz leveza, alegria. Isso me faz bem. Mais do que isso, a pessoa sadiamente humilde, não precisa se sentir valorizada o tempo todo, pode dar o palco para que outros também tenham o seu protagonismo e não precisam diminuir os outros ou seja, tiraram o foco de si mesmos, o que ajuda até a rirem mais de si mesmos e a não levarem as coisas tão a sério.
Ao conhecer e reconhecer os meus limites, mas também os meus talentos, posso fazer uma leitura melhor do mundo e da sociedade, de buscar o meu propósito e, dessa forma, a humildade me ajuda a dar o meu melhor para contribuir com um mundo melhor.
Por isso, é sim possível ser muito bom e até uma referência em determinado ramo de atuação e, ao mesmo tempo, humilde. É a atitude de aprendizado contínuo que torna a vida mais interessante e a liberdade de não precisar saber de tudo, torna a vida mais leve e feliz.
Referências
📷 Daydreams | Nicolae Grigorescu (Romanian, 1838 – 1907) | Imagem reprodução