É possível ser feliz sem disciplina?

15 de março de 2021

Um dos filósofos que mais tratou do tema “felicidade” e que é muito lido até os dias de hoje, foi Aristóteles. Para esse estagirita, ser feliz faz parte da essência do ser humano e pode ser definida como uma Eudaimonia, que em grego quer dizer virtude, a moralidade, a vivência de uma vida significativa.

Falar de Eudaimonia, mesmo que esse assunto tenha sido tratado há mais de 2.300 anos, é tratar de um tema extremamente contemporâneo, pois a busca da felicidade em nossa sociedade moderna é comparada à busca da pedra filosofal, ou seja, é tida como um tesouro precioso a ser procurado nos lugares mais difíceis de se encontrar. Nesse sentido, surge uma pergunta que perpassa toda nossa existência e que o grande mestre Aristóteles levantou como provocação filosófica é: como atingir o estado de Eudaimonia?

São várias as “receitas” que todos os dias nos são dadas acerca de como ser feliz. Quem nunca se deparou com os diversos livros e artigos de autoajuda tais como “10 passos para ser feliz”, “Como alcançar a felicidade e o sucesso”, “Como tornar o seu dia feliz” Livros dessa natureza tratam do tema como se houvesse receitas prontas para todas as pessoas facilmente alcançarem a plenitude da Eudaimonia.

Longe de criticar tais “receitas prontas para ser feliz” o objetivo deste texto é apontar qual o caminho que Aristóteles utilizou para alcançar uma vida plena. O filósofo, ao longo de sua produção literária, dizia que um dos elementos fundamentais para a felicidade seria a capacidade de o indivíduo alcançar a sua excelência assumindo plenamente sua condição humana. Em outras palavras, não dá para ser feliz vivendo uma vida de “qualquer jeito”. É preciso ter excelência no que faz.

No entanto, é possível atingir a excelência sem ter disciplina?

Como professor, no período auge da pandemia, pude acompanhar os diversos desafios dos meus alunos com relação às aulas online. Grande parte deles desejava voltar às aulas presenciais por terem dificuldades de se disciplinar e se organizar em casa quanto às diversas demandas escolares e à gestão do tempo. Eles dizem que não conseguem se concentrar, que facilmente se distraem e que procrastinar se tornou um hábito. E quando você pergunta para eles qual o sentimento com relação a tudo isso, a resposta é uníssona: “professor, me sinto infeliz! Frustrado por não conseguir dar conta de tudo que tenho condições de fazer mas não faço porque não tenho disciplina”.

Diante de tantas “fórmulas para ser feliz” o que Aristóteles aponta é que o hábito e a disciplina permitem o ser humano alcançar a excelência e, consequentemente a Eudaimonia. É impressionante quando podemos apreciar um músico virtuoso que toca seu instrumento com maestria e excelência. O sentimento de realização e felicidade está estampado em seu rosto por meio de suas expressões faciais. Entretanto, será que ele alcançaria essa maestria sem disciplina? Será que ele alcançaria sua eudaimonia sem engajamento consigo mesmo e com sua música?

Por fim, atingir a eudaimonia não se dá de maneira fácil. É preciso uma mudança de perspectiva. É necessário, como em todo começo, ter disciplina até que sejamos capazes de naturalizar nossas ações de modo que a excelência se torne um estilo de vida e um hábito em tudo aquilo que nos dispusermos a fazer. De tal forma que a ausência dessa virtude nos fará falta. Nas palavras de Beethoven: “Se eu deixo de tocar meu instrumento um dia, eu percebo a diferença; se eu deixo de tocar uma semana, meu público percebe”.

Referências

📷 The Children’s Dance Recital At The Casino De Dieppe | Victor Gabriel Gilbert (French, 1847–1933) | Imagem reprodução