Como o autoconhecimento ajuda no Projeto de Vida?
Na mitologia grega, Ícaro era filho de Dédalo, um arquiteto que acreditava ser o melhor da Grécia. Entretanto, por invejar seu sobrinho, que vinha crescendo como inventor, Dédalo acabou o matando e, por isso, foi expulso de Atenas, indo morar na Ilha de Creta, onde o rei Minos governava. Preso na ilha há anos, Dédalo decide fugir com seu filho. O arquiteto construiu asas feitas de cera de abelha e penas de gaivota, para que imitassem os pássaros e conseguissem voar para longe da ilha. Dédalo avisou Ícaro de que não podia chegar muito perto do sol, para que a cera não derretesse, assim como não devia se aproximar do mar, para que água não molhasse as penas. Entretanto, Ícaro, fascinado com o mundo, esqueceu dos conselhos do pai e acabou voando alto, chegando mais perto do sol. As asas derreteram como o pai havia avisado. Assim, Ícaro caiu no mar e morreu.
Um dos maiores desafios do ser humano é o autoconhecimento. O mito de Ícaro, mostra o grande desafio que é lidar com as emoções.
Dédalo era um grande construtor. Usar da inteligência racional, matemática, cognitiva não era, com certeza, um problema para ele. No entanto, Ícaro representa o jovem cheio de entusiasmo e autoestima, com emoções à flor da pele.
Nas palavras de Leo Fraiman (2020) ter uma autoestima muito baixa pode levar você a sempre depender de alguém para superar os desafios, realizar os próprios desejos e sonhos e alcançar seus objetivos. Por outro lado, ter uma autoestima elevada pode fazê-lo olhar apenas para si e, assim, impedi-lo de perceber o outro que convive com você. E foi o que aconteceu com Ícaro, que ignorou os conselhos do pai e, movido pelo excesso de confiança, acabou perdendo suas asas.
Essa história tão contada para as crianças gregas da Grécia Arcaica, ainda hoje tem muito a nos ensinar. O projeto de vida pressupõe autoconhecimento e autocuidado.
Identificar quem somos, nossas forças e fraquezas, saber quem somos e quem desejamos ser é o primeiro passo para a construção de um projeto de vida enriquecido de propósito e realização pessoal.
O sentido da vida
O médico austríaco Viktor Frankl, acreditava que a busca de sentido para a vida era algo inerente aos seres humanos. Ele dizia que a luta pela sobrevivência foi diminuindo conforme o homem foi desenvolvendo as tecnologias o domínio da natureza.
Frankl levantava outras questões dizendo: “a verdade é que, à medida que a luta pela sobrevivência diminuiu, a questão surgiu: sobrevivência para quê? Cada vez mais pessoas têm os meios para viver, mas nenhum significado para viver “.— (Frankl 1979, p. 21, ênfase adicionada)”.
Refletir sobre o sentido da vida, sobre a existência, sobre o que é significativo para viver é fundamental para estabelecer um propósito de vida. Para alguns, viver um dia após o outro, pode ser um roteiro atrativo, principalmente para quem busca a famosa zona de conforto ou alimentar os “padrões” da sociedade.
No passado, era muito comum o sentido da vida ser decidido pelas famílias e aceitos sem questionamento pelas pessoas – nascer, crescer, amar, procriar e morrer – , poderia ser um “bom” projeto de vida para essas demandas. No entanto, nos últimos anos, com as transformações em várias esferas da sociedade, as pessoas são impactadas em seu cotidiano e isso faz com que suas escolhas sejam mais personalizadas, complexas e desafiadoras.
Diante da dificuldade de se elaborar um itinerário de vida, somados a falta de perspectiva econômica, social, política ou familiar, muitos são impactados pelo tédio, desconexão, falta de propósito, apatia, levando segundo Fraiman (2020) a quadros de depressão, ansiedade, distúrbios alimentares ou o vício nas drogas ou outras substâncias psicotrópicas.
Por isso, para saber qual o seu propósito de vida é preciso, antes de mais nada, ter consciência de quem é (ser individual) e de como nos relacionamos com os outros (ser social). Essa tomada de consciência implica na percepção de quem somos, de como nos vemos e como recebemos os fenômenos do mundo externo em nossa interioridade. O amadurecimento do autoconhecimento é algo que não é cabal. Estamos a todo momento nos conhecendo e, consequentemente, transformando nosso projeto de vida, nossos propósitos e nossa interioridade. Nas palavras de Guimarães Rosa “O mais importante e bonito no mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas elas vão sempre mudando”.
Referências
FRAIMAN, L. Pensar, Sentir e Agir: Projeto de Vida Ensino Médio. São Paulo: FTD, 2020.
FRANKL, Viktor. Em Busca de Sentido. Tradução Walter O. Schlupp, Carlos C Aveline. São Leopoldo/RS: Sinodal, 1985, 135 p. Título original: Trotzdem Ja zum Leben sagen.
📷 Girl Reading | Stepan Bakalovich (Polish, 1857 – 1947)| Imagem reprodução