Como medir minha empatia?

16 de agosto de 2021

Vamos embarcar num voo rumo à cidade das luzes, Paris. Foram anos de planejamento, economia e trabalho duro. Finalmente, a fila do embarque nos espera.

Após tomar os assentos e ouvir as instruções de segurança, o avião decola. Ao olhar nos assentos atrás (cerca de cinco filas), você vê o restante da família, todos com largo sorriso no rosto. Infelizmente não foi possível marcar a poltrona junto aos outros familiares, mas tudo bem, porque a viagem noturna renderia mais tempo dormindo, não é mesmo? Ao seu lado, um casal apaixonado segue na sonhada lua de mel.

Algumas horas depois, um anúncio de turbulência acorda os mais ansiosos. O anúncio reitera a necessidade do cinto de segurança. Tudo normal. A viagem continua e todos se preparam para a refeição.

Porém, inesperadamente você começa a sentir dores no ouvido e um intenso frio nas mãos e de repente, as máscaras de oxigênio caem, gerando algum pânico entre as pessoas. O avião passou por processo de despressurização. São poucos segundos para tomar uma atitude.

O que fazer com as máscaras que caíram?
1. Colocar a máscara em você primeiro?
2. Você ajuda primeiro a pessoa ao lado que parece desacordada e talvez não tenha tempo de se vestir?
3. Ou toma proveito que a pessoa ao lado pode estar inconsciente e reserva uma segunda máscara para caso a primeira seja insuficiente?

Tudo bem, a história é exagerada, mas é uma forma interessante de observarmos as nossas atitudes em situações de crise.

No caso do avião, as autoridades internacionais orientam que é necessário primeiro vestir a máscara de oxigênio e, na sequência, auxiliar os demais. Tecnicamente – pelo que li – essa ordem se dá devido ao fato de que nos segundos que se seguem, o nível de oxigênio cai e a pessoa perde algumas funções básicas, sendo incapaz – por exemplo – de vestir a própria máscara. Provavelmente não conseguirá ajudar os outros e muito menos a si mesma.

 

Não se pode dar o que não se tem

Dessa história, repito, exagerada, há muitos aprendizados, que vemos em nossa sabedoria popular. Ora, não se pode dar o que não se tem. Ainda que meu altruísmo seja elevado e eu pense no outro primeiro, ou que esse outro seja uma criança, idoso ou familiar próximo, para garantir um nível de oxigênio para essa pessoa, preciso que eu esteja em condições para tal. Isso sugere o equilíbrio que – por sua vez – sugere que eu pense em mim, mas no outro também.

A empatia é uma palavra que vem sendo usada muito ultimamente. De acordo com o dicionário Michaelis, empatia é a habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa, é a compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem. Particularmente, prefiro o termo compaixão, que vem do latim cum + patior, ou seja, padecer com. É sentir como o outro, se colocar no lugar do outro, aliás, sentir junto com o outro.

Trago Arthur Schopenhauer para essa compreensão. Na visão do filósofo, o ser humano é limitado e insatisfeito – que gera uma vida de dor e tédio. Essa busca (ineficaz) pela satisfação nos torna egoístas. Porém, capazes de olhar o outro como um ser que passa pelo mesmo tormento.

Deste modo, não basta buscar apenas a justiça, que muitas vezes nos opõe, mas sim ir além com o amor e a bondade*, a compaixão que nos leva a compreender a dor do outro. Em outras palavras, o caminho junto ao outro não está na aparência ou na consideração de sua dignidade, mas sim na compaixão com a sua infelicidade, insatisfação e dor. Afinal, todos nós a temos, não é?

Para medir a nossa empatia ou compaixão, te convido a ler novamente os primeiros parágrafos desse texto e – com sinceridade – avaliar as suas respostas internas.

Os adeptos ao politicamente correto dirão (geralmente em voz alta) que a prioridade é o outro. Os mais egoístas (em silêncio), preferem vestir-se e pensar na possibilidade do uso da segunda máscara. Os mais disciplinados, seguirão as orientações anunciadas.

 

Ouvir o interior

Muito importante é que não se trata aqui de julgar os outros ou a si mesmo. Esse exercício, se realizado com profundidade, nos ajuda a ouvir o nosso interior e aprofundar nos reais motivos que nos fazem tomar as atitudes que tomamos.

É a partir daí que podemos caminhar rumo ao equilíbrio e aplicá-lo no nosso cotidiano de forma concreta, ou seja, o que eu preciso fazer por mim que pode melhorar a vida dos outros?

Se a curiosidade bateu, a máscara garante oxigênio por tempo suficiente até que os pilotos procedam a descida que faz com que a aeronave voe em altitude mais segura. Fique tranquilo.

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*Você pode aprofundar o tema bondade com o texto “Por que não começar sendo bom?”. Acesse:

Por que não começar sendo bom?

Referências

📷 La Coda del Diavolo | Fausto Zonaro (Italian, 1854 – 1929)