Como me relacionar com o meio ambiente?
Em meio à tempestade de desastres naturais que assola nosso planeta, somos desafiados a refletir sobre nossa relação com o mundo que nos cerca. No Brasil, onde a estiagem prolongada no Norte, os deslizamentos de terra no Sudeste e as inundações no Sul se tornaram registros recordes, a urgência de agir em prol da harmonia ambiental é mais evidente do que nunca.
James Lovelock e Lynn Margulis, em sua teoria provocadora, nos lembram que a Terra é um organismo vivo, onde tudo está interligado e se absorve mutuamente. Somos parte desse todo, e nossa sobrevivência está intrinsecamente ligada à saúde do planeta. Mas como podemos aspirar à felicidade quando a própria casa que habitamos está em perigo?
O filósofo coreano Byung-Chul Han, em seu livro “O Desaparecimento dos Rituais: Uma Topologia do Presente”, nos convida a transformar nosso estar-no-mundo em um estar-em-casa. Cuidar do planeta é torná-lo confiável, um lugar onde podemos encontrar abrigo e equilíbrio. No entanto, a voracidade da produção e do consumo tem nos levado à beira do abismo, não apenas como sociedade, mas também como parte integrante da biosfera.
Esse esgotamento desenfreado dos recursos naturais perturba a harmonia da vida. Precisamos resgatar valores que estabilizem nosso cotidiano, como a alteridade – a compreensão de que somos responsáveis pelo bem-estar do mundo que compartilhamos. Afinal, a verdadeira sabedoria está em reconhecer que somos apenas uma nota na sinfonia cósmica, e nossa missão é afinar nossa existência com a melodia da natureza.
A Natureza e os Estoicos: Uma Dança Cósmica em Busca da Felicidade
Neste turbilhão de desastres naturais que assola nosso mundo, os estoicos emergem como guias sábios, oferecendo lições atemporais sobre a busca da felicidade. Para eles, a virtude é o alicerce, e a harmonia com a Natureza é o caminho para a plenitude.
A Natureza, com “N” maiúsculo, é mais do que um mero cenário; é uma sinfonia cósmica. Zenão de Cítio, fundador do estoicismo, proclamou que nosso propósito é “viver em harmonia com a Natureza”. Essa harmonia não é passiva; é uma dança ativa com os ritmos do universo. Crisipo, outro estoico, nos lembra que nossas naturezas individuais são fragmentos da natureza universal. Assim, a vida virtuosa flui em sintonia com o movimento das estrelas, e nossa moral interna reflete a ordem celeste.
Mas e agora? O Papa Francisco, em sua encíclica “Laudato si'”, ecoa essa sabedoria ancestral. Ele nos convoca a proteger a Casa Comum, a Terra, e a promover a justiça social. A política e a economia devem servir à vida humana, não o contrário. Afinal, somos parte dessa dança cósmica, e nossa responsabilidade é cuidar do planeta que nos abriga.
A ética ambiental, por sua vez, nos confronta com nosso antropocentrismo. Colocamos os interesses humanos no centro, explorando a natureza sem considerar as consequências. No entanto, a Natureza nos adverte: esse caminho tem um preço alto. Precisamos resgatar a sabedoria estoica, viver em harmonia com o cosmos e, assim, encontrar a verdadeira felicidade.
Nesta dança cósmica, o encasamento, proposto pelo filósofo Hegel, emerge como um elo vital. O filósofo alemão nos convida a compreender o mundo através da razão, mas também a encontrar um “estar-em-casa” nele. O cuidado com o planeta é a base dessa morada, tornando-o confiável e harmonioso.
Os estoicos, com sua filosofia virtuosa, nos lembram que a Natureza é nossa mestra. Viver em harmonia com ela é a chave para a plenitude. A ética estoica nos ensina a dançar com os ritmos celestiais, a ouvir as estrelas e a reconhecer nossa conexão com o todo.
E então, o Papa Francisco ecoa essa sinfonia ancestral. Sua encíclica “Laudato Si’” ressoa com urgência: proteger a Casa Comum é nossa responsabilidade. Política e economia devem servir à vida humana, não o contrário. Somos parte dessa narrativa, e nossa nota na partitura cósmica deve ser de cuidado e justiça.
Precisamos reestabelecer a relação de alteridade com o mundo, reconhecendo-o como um Outro que vive, sente e respira como nós. Quando negligenciamos esse cuidado, o próprio planeta adoece. Que possamos, juntos, compor um futuro harmonioso, ouvindo os sinais desse mundo que clama por nossa atenção e mudança de mentalidade.
Referências
📷 Children in the garden (1892) | Władysław Podkowiński (Polish, 1866-1895) | Imagem reprodução