Como anda a sua motivação no dia a dia?

13 de setembro de 2021

Você já parou para pensar sobre o que move suas ações ou como anda sua motivação no dia a dia? Já se perguntou por que seu descontentamento o tem deixado cansado e estressado mais do que se estivesse trabalhando duramente em algo que gosta? Qual tem sido o sentido de sua vida? A que escolhas seus propósitos o tem levado?

Estamos em setembro, mês em que a sociedade reflete sobre a depressão e suicídio, temas que infelizmente ainda são tabus, mas que têm casos crescentes a cada dia. Está claro que a depressão é uma doença e que deve ser tratada clinicamente. Se você se vê nessa condição ou percebe-se com uma angústia contínua, recomendo que busque um especialista. Porém, é possível refletirmos sobre algumas condições que podem ser gatilhos para que o estado depressivo se instale.

Um dos mais renomados estudiosos do sentido da vida foi Viktor Frankl (1905 – 1997). Ele foi um neuropsiquiatra austríaco, fundador da Logoterapia, terceira escola vienense de psicoterapia que trazia como investigação a análise existencial da busca de sentido da vida de seus pacientes. Frankl, assim como milhões de prisioneiros nos campos de concentração, teve sua vida sequestrada pelos nazistas passando por todos os tipos de violência, torturas e situações desumanizadoras que podemos imaginar. Durante três anos como prisioneiro, Viktor testemunhou e relatou as condições terríveis que ele e outros prisioneiros tiveram que submeter, que depois se tornariam relatos de esperança em seu best seller, “Em Busca de Sentido” (1946). Mas, o que a história desse renomado psiquiatra tem a ver com o tema desse texto, Setembro Amarelo e sentido da vida?

Em um de seus relatos, Frankl conta que trabalhou de maneira forçada em escavações e construção de ferrovias tendo que cavar sozinho um túnel por baixo da estrada, para a colocação de canos d’água. O fato é que, quando um prisioneiro demonstrava “bom desempenho” em sua atribuição, esse ganhava 5 cigarros no campo de concentração que poderiam ser usados como moedas de troca por 5 pratos de sopa. Se um prisioneiro conseguisse 12 cigarros estes poderiam ser trocados por 12 pratos de sopas, o que seria, por vez, a salvação da morte por inanição (ou seja, a completa falta de alimento que leva o organismo a consumir os seus próprios nutrientes). É paradoxal o que vou dizer, mas o cigarro era o que garantiria um dia a mais de sentido para a vida. Frankl relata que quando um colega começava a fumar seus poucos cigarros, já sabia que havia perdido a esperança de poder continuar e, de fato, então não aguentaria mais.

O fato é que os cigarros representavam o propósito que os prisioneiros do campo de concentração encontravam para sobreviver dia após dia dando sentido em suas vidas. Nas palavras de William Damon, o projeto de vida é uma bússola por excelência, “[…] é um tipo de objetivo abrangente e distante que entra em jogo por longos períodos no cadinho de decisões importantes da vida”.

 

A motivação é um processo interno

São incontáveis os problemas de nossa sociedade, mas, o que eu destaco em especial nesse texto, é a falta de motivação. Diferente de incentivar, encorajar, aconselhar, que são ações externas que podemos fazer com a pessoa, a motivação é interna. Ela parte da vida interior dos indivíduos e de seus propósitos. Como professor, pai, esposo, amigo, profissional, cabe a mim incentivar, mas o processo de mudança é interno, é da pessoa, é uma escolha.

Em suas pesquisas sobre projetos de vida, Kendall Bronk analisou o problema da motivação nas escolas estadunidenses:

“Mesmo nas melhores escolas, há muitos alunos que encontram pouco significado em seus estudos. Alguns desses alunos podem trabalhar zelosamente, mas sem interesse, conseguindo as notas mínimas de que precisam para se manter longe de problemas; outros fogem inteiramente de suas atribuições acadêmicas. Quando os jovens passam incontáveis ​​horas, dias e semanas em atividades que consideram sem sentido, existem custos psicológicos” (BRONK, 2014, p.8).

São vários os custos psicológicos da falta de motivação; dentre eles podemos incluir tédio e apatia, uma ansiedade debilitante ou uma armadilha nas iscas do hedonismo e do cinismo. As pessoas desmotivadas são muitas vezes as que ficam mais “estressadas” na escola, no trabalho, na família, embora não sejam frequentemente aquelas que estão trabalhando mais duro. A falta de motivação é a mesma coisa que escolher fumar os cigarros que seriam trocados por mais um prato de sopa, que no livro do Viktor Frankl, representa a força vital para mais um dia de esperança.

Ao escrever sobre esse tema, a provocação é no sentido de pararmos e percebermos como as nossas emoções de fundo têm interferido na nossa existência. Instintivamente cada ser humano luta pela sua sobrevivência. Estamos, a todo momento, buscando meios para garantir nossa existência, seja do ponto de vista biológico, psicológico ou espiritual. Nas palavras de Frankl “a verdade é que, à medida que a luta pela sobrevivência diminuiu, a questão surgiu: sobrevivência para quê? Cada vez mais pessoas têm os meios para viver, mas nenhum significado para viver.— (Frankl 1979, p. 21, ênfase adicionada)”.

 

Um significado para a vida

Em meio a tantos desafios, talvez o maior deles seja encontrar o significado para viver e não o meio. Alguns filósofos influentes, incluindo os existencialistas franceses Sartre e Camus, acreditavam que a vida não tinha sentido, mas que os seres humanos precisavam levar vidas significativas; portanto, esses filósofos argumentaram que os indivíduos deram sentido a suas vidas. Nietzsche e o próprio Viktor Frankl, em uma de suas reflexões diziam: “quem tem um ‘porquê’ suporta qualquer ‘como’”. A pergunta que deve perpassar nossas reflexões é: qual é o meu “porquê”? No que preciso acreditar? O que estou disposto a sacrificar por aquilo que acredito?

Pode parecer estranha a minha analogia, mas refletir sobre esse tema é pensar sobre esperança. Em alguns casos, talvez a solução para o problema da falta de motivação possa começar com um convite. Isso mesmo, um convite.

Conheci uma pessoa que tinha uma ótima condição financeira, mas estava infeliz, desmotivada, se sentindo “inútil”. Essa pessoa, foi convidada pelas amigas a montar uma microempresa e aceitou. Ora, financeiramente ela não precisava disso, mas topou. Na empresa, as amigas deram para ela a função administrativa, coisa que ela gostava de fazer e desempenhava essa função com excelência. A vida dessa pessoa começou a mudar. Começou a se envolver, a fazer planilhas e fazer cotações. Ligava para fornecedores, marcava as reuniões, dentre outras atividades. Ela havia encontrado um propósito. O convite feito pelas amigas, “salvou” sua vida.

Frankl acreditava que o significado era nosso motivador mais poderoso (Frankl 1984). Prazer e poder, ele sustentou, são possíveis subprodutos de propósito, mas o propósito não é nem um subproduto nem um meio para um fim. Propósito ou significado — Frankl usou esses termos de forma intercambiável — representa nosso objetivo final e descobrir um propósito permite que as pessoas enfrentem dificuldades e superem estados negativos.

Por fim, encerro este texto com um trecho bíblico em que Jesus encontra um grupo de pessoas desocupadas, talvez até desmotivadas e diz: “Por que vocês estiveram aqui desocupados o dia todo?” E eles respondem: “Porque ninguém nos contratou”. Então, ele faz o convite: “Vão vocês também trabalhar na vinha”. Nesse trecho, o que se percebe é que o convite fez a diferença na vida das pessoas que ali estavam e as chamaram para sua busca de significado. Nas palavras de Frankl, “A busca do homem por significado é uma força primária em sua vida e não uma ‘racionalização secundária’ de impulsos instintivos.” O desejo é que esse mês possamos refletir sobre o que nos move e, o que pode nos mover dando a força interior necessária para sermos responsáveis por nossa existência e pelos significados que ela nos dá.

Referências

REFERÊNCIAS
BRONK, Kendall C. Purpose In Life: a Critical Component of Optimal Youth Development. Muncie: Springer, 2014.
https://super.abril.com.br/saude/inanicao/

BÍBLIA SAGRADA: Mateus 20, 6-7

DAMON, W.; COLBY, A. The power of ideals: The real story of moral choice. New York: Oxford, 2015

FRANKL, Viktor. Em Busca de Sentido. Tradução Walter O. Schlupp, Carlos C Aveline. São Leopoldo/RS: Sinodal, 1985, 135 p. Título original: Trotzdem Ja zum Leben sagen.

📷 Tidings from the Front (The Letter) (1907) | William Gilbert Gaul (American, 1855–1919)