Chega de pressão!

11 de outubro de 2021

Já passava da 1h da manhã e o sono não veio. Mais uma noite. Não sei ao certo se a preocupação é com o dia que se passou ou o que está por vir, mas algo não está bem. Aquela sensação estranha de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento, mas ao observar cuidadosamente, tudo está como sempre: em casa, em um ambiente seguro, olhando para o teto. Mas afinal, de onde vem toda essa preocupação? Qual o medo? Qual a razão das noites em claro?

Uma possível resposta encontrei no texto do meu colega Fábio Cavalcante, publicado aqui há algumas semanas. Diz ele que “o excesso de positividade, atrelado ao marketing, à publicidade e, até mesmo à escola, ilude e sufoca as pessoas ao dizer que tudo tem que a todo momento dar certo e que o sucesso é o fim último de todo indivíduo.”

Afinal, Por que tanta cobrança? Tenho refletido muito sobre isso. Será que realmente precisamos de tantos “likes”, de mostrar tudo o que fazemos ou de recebermos elogios por tudo? Será que a ânsia de ser notado não está nos tornando ansiosos e preocupados?

A necessidade de sermos notados e bem avaliados por tudo e por todos nos faz buscar aquilo que chamam de sucesso: um bom casamento, um bom emprego, uma lista razoável de bens, além de experiências que nos darão horas de falação e que deixará entediado até o nosso melhor amigo que teve a infelicidade de sentar ao nosso lado no jantar.

Mas será que isso é sucesso? Muitos dirão que sim. E para muitos é mesmo. Para outros não. E como saber onde me encontro? Qual é o meu lugar?

Energia consumida

Já na infância aprendemos que precisamos melhorar os pontos fracos. Na escolinha de futebol ou na temerosa aula de matemática. Demoramos para aprender que não dá para ser 10 em tudo.

Mas mesmo na idade adulta, alguns são pressionados a fazer treinamentos para melhorar os pontos fracos que buscam os colocar na nota 10, que é a média aceitável. E como isso consome a nossa energia! Tentar ser o que não somos nos consome, desmotiva e nos deixa ansiosos.

Evidente que não se trata aqui de um processo natural de buscar sermos cada vez melhores. Ter a consciência dos nossos pontos a desenvolver e trabalhar para que eles não nos atrapalhem nos nossos papéis do dia a dia é fundamental. Mas precisa ser nota 10? Será que um 5 não nos liberaria para focarmos no que realmente somos bons e que dá sentido à nossa vida?

Para que mudar se o time está ganhando?

Por outro lado, conhecer bem os nossos pontos fortes e o nosso perfil comportamental pode ser muito importante para uma vida mais feliz. Ora, por que não buscar potencializar ainda mais os nossos pontos fortes? nos tornarmos referência ou autoridade naquilo que nos dá prazer?

É importante dividir os termos para ajustar o caminho:

  • Ponto Fraco: aquilo que não me é natural e que me exige muito esforço para cumprir e, ainda assim, as pessoas próximas percebem que o resultado não ficou lá essas coisas.
  • Pontos Fortes: aquilo que faço bem, com pouco ou moderado esforço, e que os outros reconhecem que é um ponto forte.
  • E tem também aquilo que me dá prazer, não requer esforço, mas não necessariamente é um ponto forte. É comum alguns passarem horas na cozinha preparando aquele assado igual o da TV, mas o sabor…

Nota-se que os termos acima estão no contexto desse texto, sem a preocupação com o que diz o dicionário.

Deste modo, descobrir os nossos pontos fortes, trabalhar no seu aperfeiçoamento e aplicá-los na nossa vida certamente nos trará a oportunidade de ajudar as pessoas de um modo especial. Eu diria que é aqui que nos aproximamos da nossa vocação, o nosso lugar no mundo.

Buscar o meu lugar

Marco Aurélio, que governou o Império Romano de 161 até 180 DC, disse em suas meditações que “o poder que governa nossa essência, quando seu estado encontra-se de acordo com a natureza, age em cada situação com a mesma facilidade que tem para adaptar-se a todas as situações presentes e possíveis.” (AURÉLIO, 2020, pág. 28)

Lembra daquele seu colega de trabalho que fala muito bem em público e não aparenta nenhum nervosismo? Ou aquele que é craque no excel que aperta um botão e aquele dashboard todo colorido e cheio de gráficos que abrilhantam a apresentação? Pois é, mas e se você forçar o seu colega que fala em público a montar as planilhas e vice versa? Dá para aprender? Sim, mas o resultado e o esforço para atingi-lo não serão os mesmos.

É muito importante estarmos abertos ao que as pessoas falam de nós, percebermos o que nos dá prazer, como podemos contribuir. Da mesma forma, saber identificar e, com o cuidado necessário, apontar aos colegas o que eles fazem bem, pode ajudá-los também nesse processo. Um pouco de elogio não mata, não é?

Assim, podemos criar um ambiente melhor, com mais resultados, menor esforço, e muito mais leveza e felicidade nas relações. Vejam, pode até parecer aos olhos dos outros que a pessoa que está apresentando faz mais sucesso, mas nessa abordagem que trago aqui, isso não faz o menor sentido. E é assim que encontramos o que é sucesso para nós, para o nosso grupo, para a nossa empresa. Um time que joga junto para um objetivo maior.

No Filosofia Diária é assim…

Como fundador e coordenador do Filosofia Diária, tenho uma satisfação enorme em dizer que aplicamos esse conceito e temos tido muito sucesso, ou seja, alegria, em contribuirmos de forma voluntária para – ao nosso modo – ajudar as pessoas a serem mais leves e felizes.

Para aprofundar o tema sobre conhecer, reconhecer e assumir as imperfeições, recomendo a leitura do texto “Por que às vezes não me reconheço?”, escrito por mim e publicado em março de 2021. Acesse:

Por que às vezes não me reconheço?

Referências

ARAUJO, LEONARDO. Viver a Vida. https://filosofiadiaria.com.br/provocacoes/viver-a-vida/ acesso em 05/08/2021

ARAUJO, LEONARDO. Por que às vezes não me reconheço? https://filosofiadiaria.com.br/provocacoes/por-que-as-vezes-nao-me-reconheco/ acesso em 05/08/2021

AURÉLIO, MARCO. Meditações. Jandira, SP: Principis, 2020.

CAVALCANTE, FÁBIO. Um pouco de fracasso faz bem.  https://filosofiadiaria.com.br/provocacoes/um-pouco-de-fracasso-faz-bem/, acesso em 05/09/2021

📷 The Tired Gleaner (1880) | Jules Breton (French, 1827-1906)