As emoções influenciam a nossa personalidade?

1 de abril de 2023

Quando alguma coisa acontece a você, recorde sempre de se voltar para dentro de si próprio e perguntar com qual faculdade você tem de lidar. Se você ver um belo rapaz ou uma bela garota, você irá descobrir que a continência é a faculdade a ser exercida ali; se problemas lhe são colocados às costas, você irá encontrar a resignação; se grosseria e obscenidade, você irá encontrar a paciência. E se você vier a se treinar nesse hábito as suas impressões não irão arrastá-lo junto com elas. (Epicteto)

O fragmento extraído do livro A Arte de Viver, do filósofo estóico Epicteto tem muito a nos ensinar sobre nosso mundo interior e nos levanta a seguinte pergunta: que poder nossas emoções exercem em nossa interioridade diante dos acontecimentos externos dos quais nem sempre temos controle?

A forma como as pessoas lidam com as emoções ao longo da vida pode interferir muito em quem elas são, na construção de suas identidades, personalidades, valores e virtudes proporcionando alegrias e frustrações, fortalezas e vulnerabilidades.

As emoções não são nem boas nem más

Segundo Martin Seligman (2015), um dos renomados pesquisadores da Psicologia Positiva, as emoções nos proporcionam reflexões imediatas do contexto vivenciado. Podemos dizer que as emoções não são nem boas nem más, mas dentro do contexto em que elas estão inseridas, podem ser produtoras de recursos, quando positivas ou, quando negativas, servem como um alerta para o que está acontecendo em nosso entorno do qual precisa de nossa atenção.

As emoções, quando conhecidas e trabalhadas pelas pessoas, ajudam na elaboração de objetivos e metas no projeto de vida.

Não se pode pensar em um projeto de vida usando apenas a dimensão racional e cognitiva. Deve-se conhecer quais emoções transpõem a pessoa e como ela pode usar isso a seu favor e no seu crescimento pessoal.

A adolescência é o período crítico

Cada pessoa tem uma maneira de processar suas emoções e lidar com sua interioridade. Toda pessoa tem seu jeito de ser, seus gostos pessoais, seus valores, seu perfil particular que, segundo Fraiman (2020) desenvolve até os 21 anos de idade, quando o cérebro e o corpo estão mais maduros.

Segundo Mary Helen Immordino-Yang, Linda Darling-Hammond e Christina R. Krone (2019), a adolescência é um período dramático para o cérebro; período fundamental de crescimento e plasticidade social, emocional e cognitivo desencadeada pelo ambiente (epigeneticamente). Período também vulnerável para doenças mentais como depressão e ansiedade. Para essas pesquisadoras, devido às mudanças hormonais, o cérebro fica mais vulnerável a efeitos de estresse e rejeição social. Há a necessidade de explorar e expandir interesses pessoais e habilidades técnicas; oportunidades pró-sociais na comunidade; explorar gostos, crenças e valores. Também precisam de atividade física adequada, conexão social, nutrição e sono.

A construção da personalidade

Diante desse turbilhão de transformações, onde fica a construção da personalidade?

Para Fraiman (2020), na prática, a personalidade se refere ao conjunto de pensamentos, emoções e atitudes que a pessoa tem diante da vida interior e como esses elementos se manifestam no mundo, nas relações e em sua participação na sociedade.

Para que uma pessoa se torne quem ela é, elementos como experiência em família, relações familiares, turma, ídolos, vida cultural, forma de organizar vivências com unicidade, são fundamentais, se consolidando, principalmente, segundo a neurociência até os 21 anos.

Referências

ARAÚJO, U. F. (2003b). A dimensão afetiva da psique humana e a educação em valores. In ARANTES, V. A. (org). Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus.

ARAÚJO, U. F. A construção social e psicológica dos valores. In: U. F. ARAÚJO; J. M. PUIG; V. A. ARANTES. Educação e Valores: Pontos e Contrapontos. São Paulo: Summus, 2007, p. 17 – 34.

FRAIMAN, L. Pensar, Sentir e Agir: Projeto de Vida Ensino Médio. São Paulo: FTD, 2020.

Mary Helen Immordino-Yang, Linda Darling-Hammond & Christina R. Krone (2019) Nurturing Nature: How Brain Development Is Inherently Social and Emotional, and What This Means for Education, Educational Psychologist, 54:3, 185-204, DOI: 10.1080/00461520.2019.1633924

PIAGET, J. Les relations entre l’affectivité et l’intelligence. Paris: Sorbonne, 1954.

SELIGMAN, Martin E. P. Felicidade autêntica: use a psicologia positiva para alcançar todo o seu potencial. Tradução: Neuza Capelo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.

SELIGMAN, Martin E. P. Florescer: uma nova compreensão sobre a natureza da felicidade e do bem-estar. Tradução: Cristina Paixão Lopes. São Paulo: Objetiva, 2011.

📷 Un repas à deux | Victor Gabriel Gilbert (French, 1847–1933)| Imagem reprodução