Afinal, o que é Filosofia?
Ao tentar responder a pergunta “O que é filosofia?”, é necessário apresentar algumas questões importantes, como: Onde nasceu a filosofia? O contexto histórico que Atenas vivia? Como nasce o pensamento filosófico? O que diferencia a filosofia das outras ciências?, além da própria pergunta: O que é filosofia?
Sócrates, ao ser interrogado por um discípulo porque o oráculo de Delfos disse que ele era o homem mais sábio do mundo, disse a seguinte afirmação: “Só sei que nada sei”. Essa posição de Sócrates diante do pensamento filosófico, mostra o verdadeiro papel da filosofia.
O pensamento filosófico se coloca em uma abertura para a humildade de reconhecer-se à atitude de sempre aprender. Esse posicionamento propõe a atitude de busca da verdade e, por fim, o “só sei que nada sei” não é conformidade com a ignorância, mas abertura para o pensamento dialético e contraditório às próprias convicções, muitas vezes, elaboradas sem o mínimo fundamento.
Ainda dentro do contexto histórico em que a filosofia surge, o pensamento filosófico começa na Grécia, por volta do século VI a.C. Nesse período, movido pelo contexto do surgimento da escrita, moeda e, principalmente, da democracia, os gregos, pouco a pouco vão substituindo a explicação mitológica, feita de maneira intuitiva, pela explicação filosófica, feita de maneira racional, argumentativa e reflexiva.
Um estilo de vida
Mais do que uma ciência, a filosofia era um estilo de vida próprio da cultura grega. Em sua etimologia, a palavra filosofia quer dizer amizade pela sabedoria (philos (amigo) + sophia (sabedoria)). Era o ato de questionar a vida, problematizar o cotidiano, buscar o fundamento racional para as coisas relacionadas à natureza, ao mundo, à política, à sociedade era o dia-dia dos cidadãos gregos da época.
O primeiro filósofo a utilizar o termo filosofia foi o filósofo pré-socrático, Pitágoras, o fundador da escola pitagórica que acreditava que o número era a explicação para a origem de tudo.
Não é à toa que grande parte dos filósofos eram grandes matemáticos e seus conhecimentos são aplicados até os dias de hoje.
O pensamento crítico
O pensamento filosófico é um conhecimento que se justifica por si mesmo. A Filosofia tem sua base no pensamento crítico. O olhar do filósofo, diante do dia-dia é problematizador, ou seja, diante do senso comum e de fenômenos rotineiros, acríticos e automáticos, ele questiona, problematiza, “desestabiliza” o entorno, a sociedade por meio do discurso racional, buscando gerar perplexidade nos diversos assuntos.
Por isso que o filósofo Aristóteles dizia que “os homens começam a filosofar movidos pelo espanto”. Essa capacidade de se espantar, ficar perplexo, os gregos chamavam de thaumazein. Sem esse movimento interno, não é possível nascer a reflexão filosófica.
É o thaumazein que fará o filósofo questionar coisas como: Quem sou eu? Será que Deus existe? O que é o nada? O que existia antes do nada? O que vem depois da morte?
O papel da filosofia na história
A filosofia assumiu vários papéis no decorrer da história. Por exemplo, com a Revolução Industrial, o conhecimento filosófico se transformou em técnica. Esse pensamento mudou nossos hábitos dando uma finalidade prática e utilitarista para o conhecimento. Nesse contexto, o pensamento reflexivo e crítico vai dando margem para o que é útil e pragmático.
Diante dessa postura, se levanta o seguinte pensamento: Qual o papel da filosofia no mundo contemporâneo? A filosofia é um conhecimento relevante? Para quê o pensamento filosófico se a ciência e a técnica resolvem tantos problemas da humanidade?
A filosofia é a atividade de criar conceitos
Pode-se dizer que o pensamento filosófico não oferece respostas prontas. É algo mais do que simples pensamento. É reflexão, que em sua etimologia, essa palavra quer dizer “a imagem que o espelho me devolve”. Ou seja, o pensamento filosófico sempre procura questionar o que já foi pensado. A filosofia é a ciência que questiona a própria ciência, a técnica, o dia-dia, nossas ações cotidianas. Não precisamos sair deste planeta para nos tornarmos filósofos. Basta ter um olhar para o que já temos no nosso entorno.
Ao dizer que a filosofia não se prende a dogmas, pode-se dizer que a mesma tem por finalidade a superação das verdades “cristalizadas”, as crenças inegáveis, sejam elas religiosas, políticas, ideológicas ou de outro tipo, superando os dogmatismos rumo ao criticismo, ou seja o pensamento minucioso, rigoroso e com critério de busca da verdade.
Por isso, o conceito é a base do pensamento filosófico, pois criamos conceitos para precisar ideias, objetos e sentimentos. A filosofia é a atividade de criar conceitos. A filosofia é a atividade de autoconhecimento e percepção de si mesmo.
Referências
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.
MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade: Minas Gerais, Ed. PAX, 2010.
📷 Still Life with Books, a Globe and Musical Instruments (c. 1660) | Jan Vermeulen (Dutch, active c. 1638-1674)| Imagem reprodução