A síndrome de Burnout e a era do esgotamento

24 de maio de 2021

Você já teve a sensação de estar cansado, esgotado, consumido pelo trabalho? Você já se sentiu algumas vezes angustiado, com a sensação de estar sufocado com as inúmeras demandas de sua vida? Ter que dar conta do trabalho, família, estudos, rotina, cobranças, relacionamentos pessoais, profissionais está se tornando um “peso” para você? E, para piorar, com a pandemia, todas essas sensações elencadas acima, se intensificaram? Você teve a sensação de, mesmo gostando do que faz, estar com queda na sua produtividade e se sentindo infeliz naquilo que deveria ser motivo de alegria e satisfação? Ultimamente você tem dado feedbacks agressivos para colegas, amigos, familiares demonstrando uma constante irritabilidade, rispidez ou impaciência? Você tem sentido que a vida, as coisas, as pessoas, têm perdido a graça e o desânimo e a apatia têm interferido no seu humor e prazer de viver? Então precisamos conversar sobre a Síndrome de Burnout e a era do esgotamento.

A síndrome de burnout é o resultado direto do acúmulo excessivo de estresse, de tensão emocional e de trabalho e é bastante comum em profissionais que trabalham sob pressão constante como médicos, publicitários e professores. Ela é conhecida como “síndrome do esgotamento profissional” e afeta todas as dimensões da vida de um indivíduo.

Para entendermos como essa síndrome atua na vida das pessoas, vamos partir do conceito de desempenho e estresse. Segundo a lei de Yerkes-Dodson, dois pesquisadores que abordaram essa temática, nosso desempenho é medido pelo nível de estresse a que estamos submetidos. Quando não há estresse, ficamos em um estado de apatia, calma, tédio. À medida em que somos estimulados, nosso estresse aumenta e, no ambiente de trabalho, por exemplo, ele (o estresse) é o principal responsável em nos manter energizados, focados e produtivos. Para esses pesquisadores, essa condição é normal e benéfica ao indivíduo, proporcionando ao mesmo um ótimo desempenho. No entanto, quando não há o retorno ao nível de tédio, apatia e calma, e a pessoa continua constantemente estimulada pelo excesso de trabalho e de produtividade, Yerkes e Dodson afirmam que esse estado levará a um colapso, um esgotamento físico e mental intenso, levando o indivíduo à exaustão, angústia e aflição pelo fato do sistema estar desequilibrado por sobrecarga.

Metaforicamente, para entendermos esse estado de esgotamento, podemos nos comparar a uma panela de pressão. A panela destampada é o estado de apatia, a pressão é a nossa produtividade produzida pelo estresse e a válvula da panela é o controle entre o estado de “ótimo desempenho” e o “tédio”. Quando essa válvula entope, não se é possível voltar ao estado de calmaria; a pressão aumenta, a panela explode, danifica e perde de vez sua pressão não tendo mais utilidade.

Recentemente a International Stress Management Association do Brasil (ISMA) afirmou que a cobrança por produtividade na pandemia pode levar à síndrome de burnout. Cerca de 30% dos brasileiros sofrem com a doença. A pesquisadora Maria da Conceição Uvaldo, do Instituto de Psicologia da USP, explica que a síndrome de burnout causa a sensação de que toda a energia que se tinha foi sugada para o trabalho. O mundo do trabalho tem provocado o tempo todo de as pessoas darem mais e mais. No início da Revolução Industrial do Século XIX até a década de 80 isso era bem comum. Mas empresas modernas, com horários flexíveis, acabam tendo exigências até maiores do que as mais tradicionais.

A pandemia tem feito as pessoas trabalharem mais, seja presencial ou remotamente e isso, somado a ausência de contato presencial, ao medo do desemprego, da covid-19 e da cobrança por produtividade, pode levar muita gente a “entupir a válvula da sua panela de pressão”. E para piorar, o tempo de descanso deixou de existir. Nosso lar se tornou o templo da sociedade do desempenho, que segundo o filósofo Byung-Chul Han é a sociedade em que o indivíduo não precisa mais da vigilância, punição e disciplina tão descrita pelo filósofo Michel Foucault, mas sim, da sua própria liberdade, utilizada como instrumento de “auto exploração”. Nos sentimos compelidos a trabalhar, nos auto-disciplinamos, nos enchemos de uma “falsa positividade” que não permite parar e contemplar a própria existência e saborear a nossa essência. Byung-Chul Han, afirma que esse estado da humanidade tem levado muitos indivíduos ao que ele chama de “infarto da alma”, ou seja, o total desencanto, o mergulho na depressão, na síndrome de burnout e no transtorno de personalidade limítrofe (TPL).

Por fim, diante de uma sociedade tão cansada, consumida e carente de contemplação em detrimento do excesso de produtividade, torna-se banal e muito óbvia a minha conclusão desse texto como uma mensagem de superação a essa problemática: Descanse! Permita-se ao tédio, ao ócio! Lembre-se, não somos máquinas e sim pessoas dotadas de sentimentos, de emoções e de uma interioridade. Cuide do seu coração e de sua alma e se necessário, busque ajuda.

Referências

Cobrança por produtividade pode levar à síndrome de burnout. Disponível em:  <https://jornal.usp.br/atualidades/cobranca-por-produtividade-na-pandemia-pode-levar-a-sindrome-de-burnout/>. Acesso em: Jan de 2021.

Síndrome de Burnout: O que é? Disponível em: <https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/sindrome-de-burnout>. Acesso em: mar de 2021.

O agravamento dos transtornos mentais durante a pandemia. Disponível em: <https://agencia.fapesp.br/o-agravamento-dos-transtornos-mentais-durante-a-pandemia/34505/#:~:text=Entre%20os%20fatores%20decorrentes%20da,com%20familiares%3B%20afastamento%20da%20rede>. Acesso em: Jan de 2021

Ciclo ILP – FAPESP: Depressão, Saúde Mental e Pandemia. Disponível em : <https://www.youtube.com/watch?v=pXqcnhnddH8>. Acesso em: Fev, 2021.

Jovens na Pandemia. Disponível em: <https://www.jovensnapandemia.com.br/>. Acesso em: Mar. 2021.

O que é a Síndrome de Burnout? Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OxFuOT7TBOs>, Acesso em: Mar. 2021.

 

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015.

📷 Allegory of the distribution of peat to the poor (1657) | Cornelis Holsteyn (Dutch, 1618 – 1658) | Imagem reprodução