Você tem um trabalho, uma carreira ou um propósito?

21 de junho de 2023

Talvez você já tenha ouvido falar sobre as diversas teorias que discorrem sobre os níveis do processo evolutivo do ser humano. No texto de hoje, irei explicar como migramos de um trabalho para um propósito de vida, fazendo uma correlação com os 7 níveis do processo evolutivo, cuja teoria foi trazida por José Roberto Marques, que se embasou nas teorias dos níveis neurológicos de aprendizagem e mudanças, idealizadas pelos teóricos Richard Barrett, Robert Dilts e Bernd Isert, bem como na teoria da Hierarquia de Necessidades de Abraham Maslow.

Segundo a teoria dos 7 Níveis do Processo Evolutivo, a jornada de desenvolvimento dos seres humanos pode ser representada por uma pirâmide, cuja escalada parte de seu ambiente externo (base na pirâmide) rumo à obtenção de uma consciência sistêmica/universal (topo da pirâmide). A seguir, explicarei como essa jornada se correlaciona com o trabalho, carreira e propósito, tendo por objetivo promover uma reflexão a partir de uma teoria livre de julgamentos. Vamos lá!

 

Quando vivemos um trabalho

Para entender como o trabalho se relaciona com essa escalada, vou começar explicando sobre as bases da pirâmide do processo evolutivo. Os dois primeiros degraus da pirâmide se dão a partir do AMBIENTE e dos COMPORTAMENTOS.

O primeiro degrau (AMBIENTE) se relaciona com o quanto o ambiente no qual estou inserido tem a capacidade de me limitar ou me oportunizar; o quanto o que acontece fora de mim tem a capacidade de afetar o meu “estado interno”, minha paz interior; o quanto as coisas materiais são importantes na minha vida (status, carro do ano, roupas de marca, busca desenfreada pela beleza exterior).

Deste modo, se sou uma pessoa que valorizo mais as coisas do que as pessoas, se perco facilmente o meu equilíbrio em função do que ocorre ao meu redor e, assim, permito que o meio em que vivo seja um limitador para meu desenvolvimento pessoal, então eu provavelmente me encontro nesse nível do processo evolutivo.

O segundo degrau (COMPORTAMENTO) se dá com a forma como escolho agir em função das adversidades da vida, quando passo a entender que para mudar o ambiente ao meu redor preciso antes, mudar a mim mesmo, ou seja, o meu próprio comportamento. É quando reduzo a minha reação ao meio externo e começo a dar mais valor às pessoas, à construção de relacionamentos de qualidade, quando decido mudar minha conduta pessoal não mais me deixando levar pelos acontecimentos externos.

Quando estamos estagnados a esses dois degraus da pirâmide, segundo a teoria ainda nos encontramos num nível de evolução muito superficial, em que o TER ainda é mais importante que o SER.

Nesse estágio, nossa mentalidade ainda trabalha no nível do “ambiente”, da superficialidade. Quando estamos nesse nível, nós costumamos ter apenas um TRABALHO, um EMPREGO. É quando trabalhamos apenas para satisfazer nossas necessidades básicas, mas geralmente não gostamos do que fazemos, não nos dedicamos, não nos sentimos parte do mundo, das pessoas, do local onde trabalhamos. Trabalhamos apenas por uma obrigação, nada mais.

Quando vivemos uma CARREIRA

Os próximos estágios de nossa evolução se referem aos degraus 3 e 4 da pirâmide que se relacionam com o CONHECIMENTO e as CRENÇAS/VALORES.

O terceiro degrau (CONHECIMENTO) se dá a partir do desenvolvimento de nosso conhecimento, capacidades, habilidades. É quando passamos a entender que a única forma de mudarmos nosso destino é assumindo o controle de nossas vidas, por meio do desenvolvimento de nossas habilidades, da identificação e aprimoramento de nossos dons e talentos natos e da definição de metas e estratégias que nos ajude a atingir o objetivo almejado.

O quarto degrau (CRENÇAS/VALORES) é o significado que damos para a vida e os acontecimentos ao nosso redor. É quando nos conscientizamos que as coisas nas quais acreditamos moldam todo resultado que obtemos na vida, seja para o bem ou para o mal. É quando aprendemos a importância de reconhecermos quais os valores governam as nossas vidas, a fim de obtermos os melhores resultados em tudo que fazemos e evitarmos conflitos de relacionamentos. É somente quando entendemos essas questões que conseguimos assumir as rédeas de nossas vidas e deixamos de ser mero resultado do acaso, das circunstâncias.

Quando atingimos os degraus três e quatro da pirâmide, o FAZER passa a governar nossa vida, é quando saímos da ilusão do TER e nos colocamos em ação, para fazer as mudanças necessárias em nossa vida, nos tornando protagonistas e não mais coadjuvantes de nossa história.

Nesse estágio do processo evolutivo atingimos o nosso estado de Flow, de presença, atenção plena. É quando nos tornamos engajados, automotivados, quando existe paixão naquilo que fazemos. Quando estamos nesse nível deixamos de ter um simples emprego e passamos a desenvolver uma CARREIRA. É quando buscamos a nossa melhoria contínua, já temos valores definidos sobre o que é importante para nós e alteramos nossas percepções para nos empoderar em direção de um objetivo, com foco, determinação e disciplina.

 

Quando vivemos um PROPÓSITO

Os próximos estágios de nossa evolução se referem aos degraus 5, 6 e 7 da pirâmide que se relacionam com a IDENTIDADE, a AFILIAÇÃO e o LEGADO.

O quinto degrau (IDENTIDADE) tem a ver com a descoberta de quem nós somos na Essência, e não aquilo que as pessoas costumam dizer sobre nós. É nesse estágio que o indivíduo, através de uma análise profunda, passa a resgatar sua identidade, reconhecendo aquilo que o faz feliz, aquilo que o motiva, assumindo o que está disposto a aceitar, bem como aquilo que não vai mais tolerar em sua vida, em prol de exercer os papéis que decide vivenciar na vida.

O sexto degrau (AFILIAÇÃO) se relaciona com pertencimento. Uma vez que tenhamos resgatado nossa essência e tido clareza sobre os papéis que desejamos exercer na vida (empreendedor, filho, pai, cônjuge, amigo, religioso, etc.) precisamos avaliar como nos posicionamos dentro de cada um desses sistemas. É nessa fase do processo evolutivo que avaliamos o nível de nosso pertencimento a cada um dos sistemas, bem como traçamos planos de ação para ajustar nosso posicionamento, de modo a: fazer parte de sistemas que ainda não fazemos, deixar de integrar sistemas que não condizem com nossa essência, bem como aprimorarmos nossa capacidade de aglutinar pessoas nos sistemas dos quais fazemos parte.

O sétimo degrau (LEGADO) tem a ver com o desenvolvimento de uma visão sistêmica. É quando reconhecemos que não existe individualidade, mas que todos estamos conectados e que nossas ações impactam e interferem no TODO. Ao atingirmos esse estado de evolução, desenvolvemos uma capacidade genuína de abrir mão do julgamento, de buscarmos nos conectar com os outros, aceitando e respeitando as diferenças, entendendo que todos temos nossas sombras e nossa luz, e que estamos unidos num processo de evolução moral e espiritual. É quando escolhemos adotar um estado de SERVIR. Quando reconhecemos que existe algo maior que nós mesmos e que estamos aqui para compartilhar nossos dons e talentos em prol da construção de um mundo melhor.

Quando atingimos os degraus cinco, seis e sete da pirâmide, o SER passa a governar nossas vidas e nossas ações. É quando transcendemos a CARREIRA que passa a virar um CHAMADO, um PROPÓSITO, uma MISSÃO DE VIDA. É quando temos paixão por aquilo que fazemos e cuja ação visa servir o próximo.

Quando começamos a nos preocupar em compartilhar com os outros a felicidade, a paixão, a missão que está dentro de nós. Quando entendemos que só seremos verdadeiramente felizes e completos quando nossa felicidade reverberar na vida das outras pessoas também. Quando entendemos que nossos dons e talentos estão a serviço de algo maior que nós.

E você, ao avaliar a sua rotina, em que estágio está?

Referências

Pirâmide do Processo Evolutivo e o Coaching.

📷 Girl in a Fjord Landscape | Hans Dahl (Norwegian, 1849-1937)| Imagem reprodução