Pense no todo, acerte na parte

2 de novembro de 2020

Antecipação é tudo, me dizia um gestor, pois evita as famosas surpresinhas. Mas para se antecipar, é necessário monitorar o todo e as partes ao mesmo tempo, até porque não são a mesma coisa. Quando falamos de “todo” nos referimos à nossa missão e propósito de vida. A “parte” se trata do nosso comportamento e das ações que tomamos no dia a dia para alcançar a nossa missão, propósito de existir.

Exemplificando na prática: 1) recentemente tomei conhecimento de uma pessoa que chegou à velhice doente e sem dinheiro, sofrendo. Durante a sua vida gastou todo o seu dinheiro e saúde como se não houvesse amanhã, mas houve. 2) muitos de nós conhecem, é a história de Abílio Diniz que, aos seus 83 anos esboça vigor maior do que muitos de 30. O que muda nas duas histórias? O primeiro tomou decisões com base nas partes desconsiderando o todo, e, o segundo tomou decisões com base no todo, no longo prazo. Não estamos fazendo ode a este ou aquele estilo de vida, até porque a vida não é uma soma do tipo 1+1=2, e a escolha é do indivíduo, assim como as consequências dessa serem de sua responsabilidade. Como afirma Sartre, “são não dá para não escolher, porque a não escolha, já é uma forma de escolher.”

Quem leu o livro “Novos caminhos, novas escolhas”, do Abílio sabe que ele tomou decisões com base em propósito e valores considerando o início, meio e fim de sua vida. “Quanto mais vivo, mais acredito que somos aquilo que escolhemos ser”, afirma logo no início de seu livro, que considero uma obra imperdível para quem se interessa por esse tema.

Não faz parte da nossa cultura o planejamento a longo prazo e por isso esse tema provavelmente é desafiador para mim e para você. “Poxa Gabriel, mas ninguém sabe o dia de amanhã.” Verdade, mas é muito provável que tenha um amanhã, prova disso é a expectativa de vida que no Brasil em 1940 era de 45,5 anos e em 2020 bateu 76,7 anos.

Considero que dois elementos podem nos ajudar a pensar o todo da vida. O primeiro, é ficarmos em paz com o fato de que ela é finita. O segundo, saber que ela é feita de estágios e que cada qual tem suas alegrias e sofrimentos, crescimentos e crises e acima de tudo, sempre exigirá uma resposta de nós.

Ter consciência da nossa condição humana, portanto, nos permite o planejamento e a antecipação, e fazer esta jornada de forma mais suave, sabendo que este é o seu curso normal e que as mudanças são necessárias, naturais e abrem as portas para novas possibilidades de criação e realização.

“Para permanecer clara e fresca, a água tem de estar em movimento. O mesmo vale pra você.” Lou Marinoff

Assim, comparando a vida à um teatro, temos que escolher se seremos protagonistas da nossa história ou coadjuvantes da história de alguém. Ambas as atitudes têm o seu preço, mas somente uma nos dará retorno. Porque é mais provável que escolhas de hoje se refletirão nos resultados de amanhã e depois. Tenha o “porquê” definido para decidir os “comos”. Veja se os seguintes passos ajudam?

  • Qual é o sentido da nossa existência e qual é o legado que queremos deixar? – Este é o todo, a nossa missão.
    Para cumprir o sentido e deixar o legado, quais são as ações que preciso tomar no meu cotidiano? – Esta é a estratégia, as partes, os comos.
  • Quais são os valores e princípios queirão sustentar esta jornada? – Nossas crenças e valores que orientam o nosso comportamento ao longo da vida.
  • Esse planejamento não assegura a ausência de mudanças, mas enquanto método, pode nos ajudar a responder às crises e reestruturar os próximos passos, seja mudando as partes, o todo ou ambos. O estágio da velhice tende a ficar cada vez mais longo com a evolução da medicina e tecnologia. E como queremos estar e o que fazer nestes 20 ou 30 anos restantes?

A clareza desta resposta vai definir as decisões do agora, mas são as ações que tomamos no decorrer dos estágios da vida que irão concretizar o resultado. Segundo o provérbio Chinês, “podemos escolher o que plantar, mas somos obrigados a colher o que semeamos.

Referências

📷 Le Comité de sécurité de la Ville de Paris et du département de la Seine, pendant la guerre de 1914-1918 (1918) | Jean-Paul Laurens (French, 1838-1921) | Imagem reprodução