O primeiro passo para a mudança neste ano novo

18 de janeiro de 2021

Ano novo, vida nova, não é assim? O momento convida a falar de mudança.

Mudar, eis um grande desafio para a maioria de nós. Já há algum tempo viemos refletimos sobre o fato de a vida ser uma só, bem como o fato de cada um de nós ser um sujeito único, não apenas pelas digitais, mas do ponto de vista mental e psíquico.

Mas como tudo isso se relaciona a questão da mudança e o papel do auto aceitação neste processo?

Recentemente, acompanhei um caso de alguém que recebeu um feedback bastante duro no trabalho, relacionado ao seu comportamento infantil e “buller”. No dia seguinte este empregado retornou para a empresa totalmente “mudado”, era o oposto, e além do mais, começou a dar lição de moral nos demais colegas. Porém, após 1 mês tudo voltou como era antes. Seis meses após o feedback esta pessoa foi demitida.

Há mais tempo conheci um caso grave de dependência em drogas. A pessoa continuava a cavar, dizendo que não tinha problema, até que um dia cansou de cavar, aceitou e assumiu humildemente a sua condição e procurou ajuda. Hoje em dia está vivendo os melhores anos da sua vida.

Qual a diferença dos dois casos? No primeiro, a pessoa passou a fingir e atuar o feedback, como forma de negar o problema que lhe fora apontado – num estalo, “mudou” – Só que não. O segundo caso, houve a negação por muito tempo, até que o sofrimento se tornou insuportável e então houve a auto aceitação daquela condição, e a pessoa passou a fazer o trabalho de mudança, que dura até hoje.

“…não podemos mudar, não nos podemos afastar do que somos enquanto não aceitarmos profundamente o que somos.” Carl Rogers

Na vida real, a mudança não ocorre do dia para a noite, da “água para o vinho”, ou num “passe de mágica”. Muitas vezes se quer mudar algum aspecto da vida negando a condição que precisa ser mudada. Quem já experimentou, sabe que isso não funciona. E por que não funciona?

Grande parte das vezes a dificuldade da auto aceitação vem da vergonha ou medo de sermos julgados, então negamos aquilo que precisa ser mudado. O problema é que a negação causa efeito contrário, ela aumenta a pressão. Podemos comparar a uma mola de aço fixada e aberta que está importunando e precisa ser tirada do lugar. Em vez de a deixarmos aberta para assim a remover cortando-a por partes, tentamos resolver apertando-a, e, de repente, ao nos distraímos ou cansarmos de mantê-la apertada, esta salta com tudo das nossas mãos, até nos machucando.

O dramaturgo e poeta Terêncio tem a célebre frase, “nada do que é humano me é estranho”, para nós quer dizer, somos quem somos, as coisas que gostamos em nós e que não gostamos são condição de nossa existência. Quando nós nos aceitamos, estamos nos afirmando como sujeitos inteiros. É o primeiro passo para inverter o jogo, tomamos as rédeas do problema e deixamos de ser tomados por ele. Somente após reconhecermos que há um problema, quando aceitamos que ele está aí, é que criamos condições para entendê-lo e traçar estratégias para superá-lo.

Portanto, este ano novo é o momento propício para transformarmos a nossa vida, mas para fazer isso é necessário silenciar, escutar nosso coração, assumirmos quem somos e estabelecer as metas para a mudança e depois, ação. Lembremos, a nossa vida é uma só e cada um de nós é um sujeito único, se não nos dermos o direito da auto aceitação das nossas imperfeições e perfeições, que vida é esta? Não deixe mais um ano passar, afinal, “enquanto protelamos a vida passa por nós a correr.” (Sêneca)

Referências

📷 Flowers For Mama | Antonio Ermolao Paoletti (Italian, 1834-1912) | Imagem reprodução