Mais conectados que nunca

28 de setembro de 2020

“Menino, sê senhor de si”, dizia o Padre Herculano, meu antigo formador. Pois é, o fato é que estamos mais conectados do que nunca. Temos ferramentas para conhecer o mundo, seja de forma virtual ou por terra, água e ar. Até se pensa em colonizar Marte. Ainda assim, o autoconhecimento e a auto conexão podem ser desafios cuja resposta não se encontra no Google – por vezes me deparo com um estranho no espelho, já dizia o poeta.

O “conhece-te a ti mesmo” e “uma vida sem reflexão não merece ser vivida”, citados por Platão, há mais de 2.500 anos, estão mais atuais que nunca. O desafio de encontrarmos o nosso propósito – o nosso coração – como também ensina a Bíblia, perpassa gerações. Se assim o é, esse tema deveria ser central em nossa vida, não é verdade?

Quantas vezes “entramos no automático” e, quando percebemos, estamos presos a relacionamentos, trabalho, amigos sem que isso realmente faça sentido? Mantem-se um relacionamento fake para agradar os pais e amigos no almoço de domingo. Quando o parecer vem antes do ser. Aqui, não sugerimos que nos rebelemos contra tudo e todos que não pareçam adequados em primeira análise, mas que se investigue, signifique, tome decisões responsáveis e, se necessário, procure apoio de um profissional para ajudar nesta tarefa.

Negligenciar o autoconhecimento pode nos fadar a uma vida vazia, sem propósito e sem sentido, “no automático”. Afinal, se eu não me conheço, não tenho como saber o que realmente quero; se não sei o que realmente quero, qualquer coisa serve. Logo, não tenho como significar minha existência de modo a ter um propósito genuíno. Como dizia um professor meu, se você não tem sua estratégia, provavelmente faz parte da estratégia de alguém. O resultado disso pode nos levar à infeliz conclusão de que vivemos uma vida inautêntica. E esta, talvez, possa ser a pior das conclusões do ser humano em relação a si mesmo.

Até onde sabemos, a vida é uma só para cada um de nós – não sei você, mas eu nunca vi ninguém voltar pra contar. Não importa como se é ou de onde se vem. Isso significa também que a vida é única para cada um de nós. Assim, é de nossa única e exclusiva responsabilidade cultivá-la. Não dá para se abster dessa escolha ou transferir para outra pessoa ou instituição. Não sem amargar as consequências de chegar ao seu fim e perceber que a vida fora uma farsa.

O coroamento de uma vida com propósito, ainda que haja o sofrimento, é a felicidade e o sentimento de realização. Todos queremos ser felizes e a felicidade não é algo pronto e acabado – ela é uma conquista diária. Depende fundamentalmente de encontrarmos nossa vocação. Podemos conhecer o mundo todo, mas tudo somente fará sentido quando encontrarmos nosso propósito. Este somente é possível através da auto conexão, da viagem para dentro de nós mesmos e das ações colocadas em prática a partir disso.

Portanto, o autoconhecimento e a auto aceitação são os pressupostos para assumirmos com responsabilidade as rédeas de nossa vida. Falar é fácil, difícil é fazer. Concordo, até porque talvez este seja nosso maior desafio: o descobrimento de nós mesmos e de nossa missão neste mundo.

Referências

📷 Gilles Lambert (2015)