Como alcançar o equilíbrio emocional?

6 de dezembro de 2021

Quem nunca se pegou em um looping de pensamentos de antecipação de desgraça que geraram uma condição de estresse e ansiedade, fazendo que não conseguisse dormir? Quem já não criou uma narrativa sobre um fato em sua cabeça e sofreu com isso, mas quando foi ver, na realidade não era nada disso? Quem nunca ficou com muito medo após assistir um filme de terror? Quem já não ficou muito animado ao criar expectativas, e quando chegou a realidade não foi nada disso? Isso acontece exatamente porque os conteúdos da nossa consciência são chaves para determinar a nossa experiência interior.

Está cada vez mais comprovado pela ciência que a forma como enxergamos o mundo – “o copo mais cheio ou mais vazio” – interfere diretamente na qualidade de nossa experiência de vida. “Quem aprende a controlar a sua experiência interior é capaz de determinar a qualidade de sua existência, que é o mais perto que podemos chegar de sermos felizes.” [1]

A autora Loretta Breuning, na sua obra, “Os hábitos de um cérebro feliz” [2], descreve que o nosso cérebro evoluiu reagindo de forma positiva ou negativa, a depender da situação, como um mecanismo de preservação do organismo.

O fato curioso é que para que isto aconteça, não necessariamente é preciso existir uma situação real. Através das abstrações mentais conseguimos produzir ou reproduzir situações totalmente artificiais a partir de elementos de realidade e atribuir valor a estas situações, como positivas ou negativas para nossa existência.

Quando a situação é positiva, ou representada assim, são liberados os hormônios da felicidade e prazer (dopamina, endorfina, oxitocina e serotonina), e quando a situação representa uma ameaça a nós, é liberado o hormônio do estresse (cortisol) que provoca reações como medo, raiva, ansiedade, tristeza, dentre outras.

A pandemia comprometeu a nossa felicidade

A pandemia do covid-19 provocou uma mudança abrupta no mundo, o que em muitos casos gerou desequilíbrio pelo excesso de incertezas e ameaças frente a vida, fazendo com que fossem deixadas de lado outras atividades que nos causem prazer, bem-estar e alegria.

Por isso, para que consigamos outros resultados, que não a ansiedade crônica, é necessário retornar ao equilíbrio de funcionamento, e os passos a seguir podem nos indicar as pistas.

  1. Conteúdos da mente: o primeiro passo é o cuidado com os conteúdos que cultivamos em nossa mente. A nossa atitude mental, positiva ou negativa diante da realidade, determina a qualidade da nossa experiência. Acima de tudo, ter uma atitude mental positiva diante dos desafios, com foco na solução e não no problema vai nos ajudar a viver de forma mais leve.
  2. Propósito e senso de direção: ter um propósito e projeto de vida com seus objetivos e metas definidas para não perder o foco daquilo que realmente importa. Segundo o filósofo clínico Lou Marinoff, “Somos ainda mais felizes quando sabemos qual é o propósito, por que isso nos ajuda a encontrar um significado.”[3]
  3. Cuidar dos hábitos: através da escolha consciente é necessário incluir hábitos e metas saudáveis a nossa rotina. É necessário contemplar no dia a dia, os diversos aspectos que nos fazem funcionar equilibradamente: físico, espiritual, social, profissional, emocional e intelectual, e assim, estabelecer hábitos que contemplem todos estes aspectos.
  4. Se permitir desconectar: devemos aprender a reservar momentos de desconexão do trabalho e das redes sociais, com foco exclusivo em nossa organização mental, nos relacionamentos mais íntimos, como a família e as pessoas mais próximas que se ama. Cultivar nossos momentos de silêncio, auto conexão e espiritualidade, permitem a reafirmação nos nossos valores e prioridades que dão sentido à vida.
  5. Cultivar relacionamentos: os relacionamentos têm um papel determinante para o nosso equilíbrio. As relações de amor e afeto que desenvolvemos através dos laços familiares, amigos, trabalho e grupos, dão o senso de pertencimento e sentido da nossa existência dentro da sociedade, uma vez que somos seres essencialmente sociais.
  6. Atividade Física: realizar exercícios físicos regulares são fundamentais na medida em que permitem um corpo mais forte e sadio, proporcionando à mente um senso de auto confiança e bem estar adequado.
  7. Planejamento da rotina: planejar a rotina, inclusive a profissional, nos permite um maior de ordem e menos incerteza na vida. Quanto mais incertezas, maior o senso de ameaça e estresse.
  8. Compartilhar nossas dores e desafios: Conversar com alguém sobre as suas lutas interiores – “tudo o que não é dito, é mal-dito”, dizia um antigo professor – pois é através da fala que diluímos a tensão e organizamos o conteúdo da mente, que nos permite uma melhor autopercepção e a percepção do ambiente ao nosso redor, consequentemente gerando uma experiência mais consciente – mente desorganizada é caos e terreno fértil da incerteza, que gera estresse, ansiedade e angústia pela falta de senso de direção.

Que tal começar a cultivar o meio termo?

O filósofo Aristóteles era defensor do “meio termo” para se ter uma vida feliz. O meio termo é equilíbrio, que é conseguido através da virtude, que é constituída pelo hábito. Por isso, é necessário organizar a nossa rotina de forma que contemple todos estes aspectos que destacamos anteriormente, que são fundamentais para o nosso equilíbrio.

A construção do nosso equilíbrio passa pelo trabalho mental de organizar o conteúdo da nossa consciência e direcionar as nossas ações de forma construtiva. A busca pelo equilíbrio é um trabalho que exige dedicação, e à primeira vista pode parecer pesado, mas ao contrário, a sabedoria milenar nos diz que como recompensa nos traz maior completude, felicidade e leveza para o dia a dia.

Que tal começar hoje?

Referências

[1] CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. Flow: a psicologia do alto desempenho e da felicidade. Tradução de Cássio de Arantes Leite – 1ª edição. Editora Objetiva: Rio de Janeiro, 2020. Citação da página 12.

[2] BREUNING, Loretta Graziano. Los hábitos de um cerebro feliz. Traducción de Joana Delgado– 4ª edición. Ediciones Obelisco: Barcelona, 2020.

[3] MARINOFF, Lou. Mais platão, menos prozac: a filosofia aplicada ao cotidiano. Tradução de Ana Luiza Borges – 23ª edição. Editora Record: Rio de Janeiro, 2020.

📷 Azalea (1906) | Carl Larsson (Swedish, 1853-1919)