As duas faces da moeda
É provável que você, assim como eu, em algum momento já parou para observar uma moeda e olhar com atenção as suas duas faces. Ora, uma moeda traz em si duas versões: de um lado, normalmente o rosto de um governante e de outro, uma mensagem de propaganda. Porém, a moeda tem um único valor, independente do lado que você escolher.
Do mesmo modo, a fé pode nos levar a duas experiências distintas como uma experiência empírica, que é aquele conhecimento adquirido durante toda a vida, no dia a dia, ou uma experiência transcendental, ou seja, que vai além do nosso dia a dia, que busca algo além das coisas que vemos no nosso cotidiano. Entretanto, independente do lado que você escolha, trará os mesmos valores para vida. Explico.
A fé como experiência empírica me reporta para o aqui e agora, confrontado com o meu EU, enquanto a transcendental nos leva aos mistérios que fogem à razão empírica, mas ambos norteiam a busca do sentido da vida. Importa esclarecer que, neste ponto, não se trata de colocar o ser humano no lugar de Deus, mas sim de tematizar Deus a partir do humano, bem como o humano à luz da revelação.
A Fé como diz Tomás de Aquino é o conhecimento mediante ao processo intelectivo de abstração dos objetos sensíveis, portanto tal experiência como tomada de consciência de uma finitude que leva-nos a buscar respostas em função de tomadas de decisões, isto é, a fé como experiência transcendental nos faz pensar e agir e como experiência empírica a experimentar e sentir.
Na prática, Tomás de Aquino nos convida a olhar além das coisas, mas buscar um sentido, que muitas vezes está para além das coisas. Por exemplo, todos os dias desde o despertar somos levados a uma tomada de consciência bem como de decisões: levanto ou fico mais um pouco na cama? Quais são as consequências desta decisão? O que eu ganho com isso , ou terei consequências negativas? São tomadas de consciência e decisões das coisas mais simples da vida até as mais complexas de nossa existência.
Mas, uma coisa é certa, em todas necessitamos de um grau de fé em mim mesmo, nas pessoas com quem me relaciono e convivo bem como nas realidades acima da minha capacidade lógica/racional. A fé permeia nossa capacidade mais intelectiva possível e nas tomadas de decisões: como mudar de trabalho, começar um namoro, mudar de cidade, se abrir a uma nova amizade, em todas estas realidades preciso colocar minha fé de alguma forma, porque são situações que não conheço seus desdobramentos. Nossa existência exige algum agir na fé.
Portanto, para desenvolvermos bem nossas capacidades, a fé é necessária para ser e conhecer. A fé leva o ser humano a ampliar seus horizontes, preencher seus vazios e alcançar relacionamentos melhores ou, como disse Merleau Ponty, uma alteridade ontológica.
Referências
📷 Der Münzsammler (Ca. 1900-1920) | Max Gaisser (German, 1857-1922)