A aventura da expectativa e o mundo real

5 de julho de 2021

É inegável que o universo das expectativas pode ser uma aventura e tanto. Podemos viver momentos de grande prazer, surpresa ou até de frustração, a depender do desfecho da realidade. Quem de nós já não criou muita expectativa em relação a alguma coisa que, quando aconteceu, se frustrou? Quem, diante da frustração, prometeu não mais criar expectativas? Quem dentre nós já não sentiu o grato prazer da surpresa positiva? Por outro lado, quem de nós não se sente confortável e seguro quando consegue ter previsibilidade em questões importantes?

No livro, “Os hábitos de um cérebro feliz”, a Loretta Breuning afirma cientificamente que “o nosso córtex está sempre fazendo previsões sobre dor futura e recompensas futuras. Porém, as recompensas antecipadas que não se materializam são fontes de cortisol.” De forma simples, o cortisol aumentado é sinônimo de estresse, ansiedade, desprazer ou conflito. Por isso, quando criamos expectativas negativas em relação a algo, o nosso sistema nervoso responde, liberando hormônios de estresse, preparando nosso corpo para reagir a um perigo ou ameaça. Por outro lado, quando antecipamos algum momento prazeroso através da expectativa, o nosso sistema nervoso central igualmente nos prepara para curtir o momento, liberando hormônios do prazer. Assim, quando o que foi antecipado através da expectativa não se concretiza, temos o efeito contrário daquilo que se antecipou, ou decepção ou alegria.

Trazendo isso para o nosso dia a dia, na relação com as outras pessoas, é necessário que observemos estes aspectos para não nos complicarmos. Quando prometemos (pro+mittere = enviar adiante; dizer antes; prever) algo à alguém, damos um sinal, de que alguma coisa deve acontecer. Do outro lado, a pessoa confiando na nossa palavra, possivelmente começa a criar expectativas, positivas ou negativas, dependendo da promessa. Se então não cumprimos o que prometemos frustramos as expectativas, perdemos a credibilidade e muitas vezes somos causa de mágoa à alguém.

Se damos sinais ao outro, que sugerem altas expectativas, mas que não condizem com aquilo que podemos entregar, igualmente geramos um conflito. A desproporcionalidade entre expectativa versus realidade muitas vezes pode nos custar um relacionamento, um cliente, um amigo ou a nossa credibilidade na praça.

O mesmo se dá em relação a nossa vida. Quando criamos expectativas desproporcionais em relação ao nosso futuro, isto é, expectativas que não estão fundamentadas em ações, podemos ter decepções que custarão a nossa paz.

Portanto, alimentar expectativas positivas desproporcionais à realidade em nós ou no outro, significa “curtir antes de ter”. É sonhar com a surpresa no aniversário, se sentir feliz com isso. Quem nunca? Mas quando a realidade bater à porta, e não houver surpresa e a expectativa não for confirmada, restará o sentimento amargo da frustração. Por isso, segundo a frase atribuída ao filósofo estóico Sêneca, “a expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente.”

Por fim, a sabedoria sugere que quando a notícia é boa, é preferível manter as expectativas mais baixas e deixar espaço para curtir a surpresa positiva. Quando a notícia é ruim, que tenhamos previsibilidade e sabedoria para nos prepararmos para o impacto, mas nunca, nunca, que nos frustrem.

Referências

📷 The Inshore Channel (1892) | Christian Krohg (Norwegian, 1852-1925) | Imagem reprodução