Como discordar sem criar discórdia?

14 de março de 2022

O Filosofia Diária tem por pilar a reparação do indivíduo, ou seja, a reconciliação da pessoa consigo mesma, e isso passa pelo autoconhecimento e do seu projeto pessoal de vida, a revisão de valores e a construção de sua missão. Identificamos que muitas pessoas buscam sim criar relações mais saudáveis e leves, mas isso passa por sermos mais autênticos e aqui mora um perigo que joga o nosso “eu” em segundo ou terceiro plano que é dizer “não“ para algumas pessoas.

Muitas vezes as pessoas chegam até nós com problemas nas mãos a serem resolvidos, mas por algum motivo não querem resolver, mas sim transferir o problema. Mas como dizer não sem magoar as pessoas?

Por que temos receio em dizer “não”?

Veja que no caso acima existe um problema a ser solucionado. Problema este que você não é a causa. Resolver um problema é sempre um transtorno e causa sim um desconforto. Falar a palavra “não” é muito difícil para muitos. E é compreensível, pois ao negar um pedido, por exemplo, você traz à luz esse desconforto.

Não se trata de um ombro amigo, um conselho ou mesmo de arregaçar as mangas com empenho para ajudar. Isso é muito positivo e faz bem para a alma. Mas abordamos aqui casos de transferência de problemas.

Via de regra, são três os motivos principais que motivam o indivíduo a criar uma carga em si mesmo pela dificuldade em dizer “não” para as pessoas. São eles o medo da rejeição, ou seja, o receio de ficar sozinho, ou mesmo o medo primitivo de afastar-se do bando; buscar agradar sempre, que é muito conectado com o primeiro, mas está também ligado ao fato da imagem de si mesmo que se quer criar diante dos outros; e finalmente evitar o confronto.

Porém, ao aceitar tudo de todos, transferimos esse desconforto do outro para nós mesmos e assimilamos o estresse e os desafios para resolver o problema que não é nosso e nem foi causado por nós.

Como dizer “não” de forma assertiva e amigável?

De acordo com o Portal Significados, “quem comunica com assertividade comunica de forma clara, objetiva, transparente e honesta” ou ainda, a “assertividade é uma competência emocional que determina que a pessoa consegue tomar uma posição clara, ou seja, não fica “em cima do muro””. E faz isso bem, expondo as justificativas e sem magoar o outro. Sim, é difícil, porém é mais técnica do que um dom natural, ou seja, pode ser apreendido. Veja algumas dicas que podem ajudar na comunicação do dia a dia:

1. Buscar o diálogo
Um passo importante é não “engolir” a situação que desagrada. Uma conversa franca em que os pontos que desagradam uma ou ambas as partes é um passo fundamental. Não dizer na hora para evitar desconforto pode ser pior, pois o diálogo se dará na sua mente e por vezes um pequeno mal entendido pode se tornar a razão de longas separações.

2. Ouvir com paciência e generosidade
Assim como num processo de negociação, ouvir é muito importante. Sim, eu sei que pode ser chato e interminável, mas isso também se desenvolve com o tempo. Ouvir com paciência e generosidade, significa olhar para o problema do outro com empatia. Ainda que por algum motivo nós sejamos a “vítima” da situação, dar esse passo além é uma virtude. Sabemos que a convivência próxima traz amores, mas também dores. É importante aprender a conviver com elas.

3. “Gentileza gera gentileza”
A famosa frase do “Profeta da Gentileza” pelas ruas do Rio de Janeiro, ecoa aqui também. Ser gentil na escuta, mas também nas palavras já ajuda muito a “desarmar” os conflitos e colocar o problema a ser resolvido como mais importante do que os conflitos pessoais. Geralmente, devolver uma agressão com gentileza joga um balde de água fria nas calorosas discussões.

Aqui cabe também citar a pouco compreendida passagem em que Jesus disse que “Se alguém bater em você numa face, ofereça-lhe também a outra”. Ora, evidente que não se trata de uma postura receptiva à dor, mas ao oferecer a outra face o debate se encerra. Não há briga se apenas um lado quer brigar.

4. Porém, não enrole
De qualquer forma, seja lá o que deva ser dito, que seja dito. Estudamos muitos perfis comportamentais e sabemos que há pessoas capazes de falar por horas sem – objetivamente – dizer nada. Por outro lado, também há os que são tão diretos que o interlocutor simplesmente não entende o contexto ou o que quis dizer.

 

Discordar sem criar discórdia é possível

Estudei e trabalhei com comunicação por muitos anos e ainda assim a comunicação clara é um grande desafio. Recomendo aprofundar o tema periodicamente, pois é possível discordar e dizer “não” sem criar discórdia, mas com maturidade e franqueza. Essa é uma importante chave para relacionamentos saudáveis, mais leves, felizes e duradouros.

Referências

📷 Portrait of Hugh Montgomerie, Later Twelfth Earl of Eglinton (1780) | John Singleton Copley (American, 1738-1815) | Imagem reprodução