A Busca Pela Excelência: Virtudes e Valores na História
Desde tempos remotos, a preocupação com a autonomia, a razão moral, os direitos cívicos e a justiça tem sido central para a convivência em sociedade. Na Grécia Antiga, filósofos como Aristóteles exploraram a questão das virtudes, que acompanham o ser humano em sua busca pela excelência. Neste contexto, Aristóteles (350/1985) argumenta que a virtude moral não é inata, mas deve emergir como resultado de práticas deliberadas. Associando a virtude às noções de caráter, Narvaez e Lapsey (2007) a concebem como uma marca enraizada na personalidade, integrando comportamento, atitudes e valores.
Quando a escola aborda virtudes e valores como conceitos centrais de sua proposta de educação moral, busca fortalecer as qualidades inerentes a cada ser ou coisa. A virtude, como capacidade, permite que indivíduos ajam de acordo com sua natureza intrínseca. Embora derivada da ética, a virtude tem recebido pouca atenção na ciência psicológica, a menos que seja traduzida em termos como “hábitos” e “traços” (LAPSEY & NARVAEZ, 2007). Reconhece-se a virtude ao observar como algo ou alguém desempenha de modo excelente a função para a qual está predisposto (PUIG, 2004 apud COMTE-SPONVILLE, 1996, p. 143-144).
A busca pela excelência está intrinsecamente ligada ao que nos torna mais humanos, identificando-nos com nossa natureza. A personalidade humana é marcada por continuidades importantes, sendo o hábito um fator crucial. Transferindo a noção de virtude para os seres humanos, Puig (2004) enfatiza que ela não é inata, mas sim resultado intencional do esforço consciente. Os atos virtuosos requerem repetição e esforço contínuo, conferindo-lhes estabilidade e durabilidade. O “Manifesto da Educação do Caráter” (Ryan & Bohlin, 1999, p. 190) destaca o desenvolvimento de virtudes como essencial para formar adultos responsáveis e maduros. Em suma, as virtudes são a essência de nossa humanidade, moldando nosso caráter e nos aproximando do bem.
As virtudes, como qualidades que nos predispõe a agir de acordo com critérios e valores, desempenham um papel fundamental na formação do caráter humano. Essa perspectiva, presente desde a Grécia Antiga, ganhou destaque com Aristóteles, que considerava a virtude como resultado de práticas deliberadas, não inata. A pessoa virtuosa não segue regras inflexíveis, mas adapta sua conduta às circunstâncias, buscando padrões de excelência.
A filosofia aristotélica associa a prática da virtude a uma dimensão teleológica, onde o bem almejado por todos é a felicidade. Essa felicidade não é individualista, mas coletiva, relacionada à amizade e à cidadania na pólis. No entanto, ao longo da história, a autoridade divina substituiu o cenário da pólis, definindo o virtuoso como aquele que busca a divindade por meio de normas religiosas.
Com a modernidade, o indivíduo tornou-se o centro da moralidade, e as virtudes perderam espaço para reflexões sobre o dever e decisões pessoais. O resgate das virtudes exige imersão em práticas, narrativas biográficas e inserção em tradições morais coerentes. Victoria Camps e Adela Cortina defendem a ética das virtudes como complemento à ética deontológica, possibilitando a formação prática dessas virtudes na sociedade.
Assim, a educação moral deve engajar-se na vida social, e a escola, como comunidade embrionária, deve apontar para propósitos maiores, evitando tornar-se um mero “exercício de ginástica.” A busca pela excelência, ancorada nas virtudes, nos aproxima da autenticidade e do bem.
Na perspectiva foucaultiana, a ética do cuidado de si mesmo, próxima à concepção das virtudes, coloca a liberdade moral do sujeito como o objetivo das virtudes. Foucault (1986) destaca que não se trata de democracia ou comunidade, mas sim da vontade individual como finalidade. Na época clássica, as técnicas do eu permitiam transformar a própria vida em uma obra de arte.
O desejo de formar sujeitos virtuosos sempre permeou o pensamento ético e o esforço moral humano. A modernidade, sob uma perspectiva utilitarista, complexificou a compreensão das virtudes, mas não as eliminou; apenas conferiu-lhes novos significados e definições. As éticas da auto-realização e da deliberação racional são compatíveis e fundamentais para a ética das virtudes, observando práticas reflexivas e deliberativas.
Muitas escolas já adotam a reflexividade, a deliberação e a virtude como práticas complementares na formação moral. Essas práticas exigem excelência pessoal para atingir objetivos. Embora delimitar as virtudes no contexto escolar não seja simples, cada virtude contribui para um conjunto maior, e a tradição escolar desempenha papel crucial na formação de condutas virtuosas.
Portanto, ao longo da história, a humanidade se debruçou sobre a busca por uma vida virtuosa, buscando a excelência em suas ações e pensamentos. Desde os primórdios da filosofia, com figuras como Aristóteles, as virtudes foram reconhecidas como elementos essenciais para a construção de uma sociedade justa e harmônica.
As virtudes, como a coragem, a justiça, a temperança e a prudência, não são inatas, mas sim frutos do esforço consciente e da repetição de boas ações. Através da educação e da prática constante, podemos cultivar essas qualidades em nós mesmos, moldando nosso caráter e nos aproximando daquilo que nos torna verdadeiramente humanos.
A educação do caráter, baseada no desenvolvimento das virtudes, é fundamental para a formação de indivíduos autênticos, responsáveis e engajados com o bem comum. Através da escola, como comunidade embrionária, podemos fomentar a prática das virtudes, preparando as novas gerações para os desafios da vida em sociedade.
Embora a modernidade tenha trazido novas perspectivas para a ética, as virtudes não perderam sua relevância. Na verdade, elas se tornaram ainda mais importantes em um mundo complexo e em constante mudança. Ao cultivarmos as virtudes em nosso dia a dia, podemos construir uma sociedade mais justa, fraterna e próspera para todos.
Lembre-se: a jornada em busca da excelência através das virtudes é um processo contínuo que exige dedicação e perseverança. Mas os frutos dessa jornada são recompensadores, pois nos permitem viver uma vida mais plena, significativa e feliz.
Referências
Araújo, U. F. A construção social e psicológica dos valores. In: U. F. ARAÚJO; J. M. PUIG; V. A. ARANTES. Educação e Valores: Pontos e Contrapontos. São Paulo: Summus, 2007, p. 17 – 34.
Narvaez, D., & Lapsley, D. Becoming a moral person: Moral development and moral character education as a result of social interactions. In M. Christen, C. Van Schaik, J. Fischer, M. Huppenbauer, & C. Tanner (Eds.). Empirically informed ethics: Morality between facts and norms. New York, NY: Springer, 2014.
Puig, J. M. A construção da personalidade moral. São Paulo: Ática, 1996, p. 23 – 76.
📷 Portraits intimes (1872) | Alfred Dehodencq (French, 1822-1882) | Imagem reprodução